Na Cantareira, ameaça surge com bufês

Um raio de 10 km no entorno de parque perdeu 52 hectares de mata

PUBLICIDADE

Por Diego Zanchetta
Atualização:

A menos de 10 km da capital, o silêncio da mata e o ar puro causam impacto agradável no paulistano que acabou de sair da "cidade". Áreas de proteção ambiental estratégicas para produção de água, que deveriam ser preservadas, são vendidas a qualquer custo. A venda de imóveis é indiscriminada tanto na Serra da Cantareira quanto ao redor da Billings. Segundo a organização não-governamental (ONG) SOS Mata Atlântica, existe um "efeito formiga" que destrói a Serra da Cantareira e está sendo fomentado, entre outros motivos, pela explosão de bufês de casamentos e de aniversários em chácaras. Ao contrário dos anos 90, quando a devastação atingia áreas dentro do Parque Estadual, o desmatamento ocorre agora nas bordas da serra. Márcia Hirota, ambientalista da SOS, afirma que um novo estudo da ONG, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que um raio de 10 km no entorno do Parque Estadual perdeu 52 hectares, 28 deles na parte de Mairiporã. Em 11 dos 52 hectares com suspeitas de devastação, os técnicos do Inpe ainda estão fazendo análises para descobrir quem são os responsáveis. "O satélite não tem tanta precisão em apontar os desmatamentos de 1 a 1,5 hectare. Precisamos fazer uma checagem no local. Mas o que percebemos é a venda ilegal de terrenos e de sítios para bufês se multiplicando." Na Estrada da Roseira, por exemplo, no limite entre São Paulo e Mairiporã, a profusão de placas de "vendem-se terrenos" tenta aguçar o futuro cliente. Por R$ 22 mil é possível comprar uma área de 3 mil m², suficiente para construir um pequeno refúgio no meio da Cantareira. "Se for tentar licença para construir, você nunca consegue. O negócio é comprar e construir. Ninguém vai tirar você do sítio", avisa João Paulo, um corretor de imóveis da região. A 30 km de distância, no entorno da Billings, terrenos sem escrituras também são vendidos para pessoas que querem ter uma chácara à beira da represa. Apesar de o governo do Estado ter lançado campanhas e ações para tentar congelar a ocupação nas bordas das duas principais áreas de mananciais da capital paulista, corretores seguem vendendo terrenos a preços baixos e com a promessa de que não haverá problemas com a fiscalização. Nos últimos dois anos, a Guarda Ambiental demoliu 64 imóveis construídos ilegalmente nas bordas da Cantareira. Das nascentes da Cantareira e da Billings, sai a água para abastecer 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Segundo o secretário estadual de Meio Ambiente, Xico Graziano,quem comprar terreno na serra sem documentação pode se dar mal. "Quem construir sem autorização corre o risco de perder dinheiro. Estamos atentos a qualquer nova edificação", disse o secretário. Desde o dia 16, cerca de 60 policiais fazem blitze na Cantareira contra ocupações irregulares. As ações do governo, porém, não inibem corretores de Mairiporã. Terrenos com riachos e mata nativa são oferecidos na maior parte das imobiliárias. "Aqui tudo é manancial, se fosse para ter autorização, ninguém constrói nada e não tem trabalho pra ninguém", diz o corretor João Picchini.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.