Na crise, rainhas ''passam o chapéu''

Algumas beldades ajudam as escolas de samba a conquistar patrocínios; outra são chamariz para o dinheiro

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Por Valéria França
Atualização:

Elas, as rainhas e madrinhas das baterias, estão de volta às quadras das escolas de samba de São Paulo. Ellen Roche, Gracyanne Barbosa, Viviane Araújo e Adriana Bombom, entre outros nomes conhecidos do carnaval, ressurgem do quase anonimato do dia a dia e retomam o lugar de estrelas. Neste ano, porém, em época de crise financeira, elas ganharam um papel ainda mais importante nas escolas: na hora de passar o chapéu, as beldades ajudam a impressionar o patrocinador. Blog com dicas de carnaval e agenda das escolas e especial do Rio e SP Rainha da Rosas de Ouro desde 2000, a atriz Ellen Roche teve uma semana intensa de trabalho. "Recusei trabalho porque não daria conta", diz ela, que enfrentou uma maratona de ensaios, aulas de samba, sessões de drenagem linfática e muitos exercícios. Foi também requisitada pela mídia, por agências de publicidade e pela indústria de eventos espalhada pelo País. Neste ano, Ellen teve uma tarefa que até o carnaval passado não fazia parte de suas atribuições. Pela primeira vez, a escola pediu para que ela ajudasse a angariar fundos. "Ellen saiu a campo e conseguiu uma empresa disposta a pagar as camisetas da bateria", diz Angelina Basílio, diretora da Rosas. Uma quantia irrisória se comparada ao montante necessário para colocar a escola no Sambódromo do Anhembi, mas que ajuda. Em época de crise, a figura das estrelas do carnaval ganhou ainda mais peso, na hora de passar o chapéu. "Neste ano, foi necessário um esforço maior de todos da comunidade. Não temos mais o patrocinador que banca a maior parte da festa, mas não dá para reclamar. Conseguimos vários parceiros importantes, caso da AmBev, que deve repassar cerca de R$ 200 mil, e outros menores. Fechamos as contas", diz Angelina. Como todas as 14 escolas do Grupo Especial , a Rosas de Ouro ainda conta com uma verba de incentivo da Prefeitura, R$ 483 mil, do direito de transmissão pago pela TV Globo, cerca de R$ 200 mil, e parte da renda dos ingressos. Há também os recursos gerados com os shows que faz durante o ano e com os projetos internos, como o Recicla Carnaval, que rendeu R$ 70 mil neste ano. "O problema é que o carnaval de São Paulo está cada vez maior e mais caro." No ano passado, a escola gastou R$ 1,8 milhão. A Rosas de Ouro não tem ainda o total de 2009. A Pérola Negra estima um gasto de R$ 800 mil. A escola desfila com 3.400 integrantes - 400 a mais do que no ano passado. E conta com um enredo diferente, cujo o tema é a Índia. "Tivemos de dispensar as plumas e buscar outras técnicas que dessem a mesma visibilidade e luxo às fantasias", diz Jairo Roizen, diretor de Marketing da escola. "Ficou bem mais caro." Foi em setembro, com o enredo escolhido e o desfile esmiuçado no papel, que a Pérola saiu à procura de patrocinadores. "Pode parecer tarde, mas só dá para pedir dinheiro com o produto bem especificado. Em seguida, veio a crise. Na verdade, a abordagem é a mesma que vender um show e, se você tem participantes famosos, fica mais fácil." Neste ano, a Pérola escolheu a atriz global Juliana Alves, a Suelen, da novela Caminho das Índias, que sai pela primeira vez como madrinha. "É uma via de duas mãos. A escola ganha visibilidade e as madrinhas, mais prestígio" , diz Antônio Carlos Cirillo, responsável pela Comunicação da Camisa Verde e Branco. Ser rainha ou madrinha de bateria é um posto cobiçado e quem chega lá procura manter a todo custo o título, pelo maior tempo possível. "Todas querem, mas poucas conseguem", diz Viviane Araújo, há cinco anos rainha da Mancha Verde. Ela foi levada para a escola pelo ex-namorado Belo, em 2005. Dois anos depois, o polêmico pagodeiro trocou de mulher e de escola. Ele e sua atual noiva, Gracyanne Barbosa, desfilam pela Império de Casa Verde. Viviane continua fiel à Mancha. O troca-troca rendeu manchetes e mais holofotes para as duas escolas no carnaval passado. "Viviane será nossa rainha eterna", diz Thais Dantas, diretora de Comunicação da Mancha. "Ela teve atitude. Perdemos o Belo, mas ela ficou." Com a saída do pagodeiro, a Mancha perdeu também um integrante de peso, que trazia dinheiro à escola. O prestígio do pagodeiro é decisivo para suas namoradas conquistarem o posto de rainha das escolas por onde passa. "A Gracyanne pouco aparece nos ensaios", diz Danielle Romani, musa da Império de Casa Verde, que sai pelo segundo ano ao lado da rainha de bateria. "Ser musa é um título importante. As pessoas te olham diferente. Abre portas. Hoje, tenho argumento para pedir um cachê maior em qualquer lugar", diz a musa, que ainda nem chegou à majestade. QUEM PAGA A FESTA R$ 19,9 milhões é o total que a Prefeitura desembolsa para o carnaval R$ 6,7 milhões é a verba do Município destinada às 14 escolas do Grupo Especial R$ 2,8 milhões é, em média, o que a TV Globo paga pelo direito de transmissão do espetáculo R$ 4 milhões foi o faturamento com ingressos no ano passado, dinheiro esse totalmente repassado às escolas, que rateiam a verba CARNAVAL INESQUECÍVEL Marcello Dantas Designer multimídia "Em 2006, estive em Barranquilla, cidade de Shakira (a cantora), na Colômbia, e vi um carnaval que não tem no Brasil. Lá não é profissional. Ninguém paga para ser alegre. É um carnaval de rua e, no lugar de se fantasiar, as pessoas pintam o corpo de preto. Isso é muito bacana. O som é muito diferente do batuque a que estamos acostumados. Lá o carnaval acontece ao som da música caribenha, animadíssima, e muito orquestrada, com sopro, corda... É um carnaval de músicos amadores com uma riqueza sonora impressionante. Tem gente de todas as idades. É do povo. É farra."

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