Na Vila Mariana, fiscais do Cidade Limpa removem 2 anúncios por hora

Ao lado de Pinheiros e Sé, subprefeitura sofre 80% mais com ação de infratores do que as regiões vizinhas

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

A professora de inglês, o corretor de imóveis, o vendedor de acarajé delivery, a massagista, o vidente do amor. Essa mistura de personagens urbanos trouxe a duas regiões da capital paulista, Vila Mariana e Pinheiros, o título de campeãs de desrespeito à Lei Cidade Limpa, de acordo com a Prefeitura. Enquanto nesses locais as médias são respectivamente de 375 e 150 faixas retiradas por semana pelos fiscais, em subprefeituras vizinhas a marca é de 70 semanais (índice até 80% menor). Na Vila Mariana, a subprefeitura informou que são retiradas, em média, duas faixas por hora. Ali, a solução para reduzir o problema foi inusitada. Uma caminhonete que estava para "se aposentar" da função de carrocinha virou o "caminhão caça-faixa" , com direito a adesivo estilizado. O veículo circula diariamente, na tentativa de coibir quem insiste em infringir a lei - em vigor há 2 anos e 5 meses. A comparação dos dois polos de "desrespeito" à Cidade Limpa com as áreas mais periféricas evidencia ainda mais a liderança na infração. A média de apreensão de faixas nas subprefeituras localizadas nos extremos da cidade não chega a 30. Ou seja, na Vila Mariana e em Pinheiros, o número é 15 vezes maior (o ranking total, com todos os distritos, não foi divulgado pela Prefeitura, para evitar comparações depreciativas). Desde o início do ano até junho, foram retiradas 16.835 faixas de apenas sete subprefeituras de São Paulo, 12.723 delas (75,5%) na Vila Mariana (9 mil) e Pinheiros (3.723). TWITTER O epicentro do problema, conforme os fiscais, é Moema, um dos bairros mais nobres da subprefeitura de Vila Mariana. "O desrespeito está nas áreas que concentram moradores de maior poder aquisitivo, porque é para esse público que a publicidade clandestina é voltada", explica o secretário da Coordenação de Subprefeituras, Andrea Matarazzo. Na nova febre virtual do Twitter, ele recebe e divulga mensagens sobre as esquinas onde as faixas desafiam a lei. "Tiramos a faixa e, no instante seguinte, são recolocadas", lamenta. Matarazzo afirma ainda que muitas operações para a retirada dos materiais exigem a presença da polícia. "Os anúncios podem ser uma maneira de conseguir entrar na casa das pessoas ou vender mercadorias sem garantia da procedência." Em nome da Lei Cidade Limpa, uma vidente do amor foi indiciada por "crime ambiental, após deixar o telefone exposto em uma das faixas. O pai Guerreiro de Oxalá também "caiu" por causa das 40 faixas espalhadas por Pinheiros, em uma ação armada pelo coronel Nevoral Alves Bucheroni, subprefeito local (mais informações nesta página). "Hoje, aqui na região, as faixas e os camelôs são os problemas que mais exigem a nossa presença", afirma Bucheroni. Oswaldo Buccan, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Vila Mariana, lembra que não é apenas o "visual" do bairro que acaba comprometido pelas faixas. "Os infratores destroem árvores para colocar as faixas e deixam sujeira pelas ruas, o que entope bueiros e causa enchentes." A explicação para a liderança dessas regiões no ranking da infração não é só econômica. Os bairros também formam um corredor de passagem pela cidade, o que é atrativo pelas leis publicitárias. A circulação de pessoas explica também o motivo da Subprefeitura da Sé, que engloba Avenida Paulista, República e Consolação, responder pelo terceiro ponto mais desafiador da Cidade Limpa. Nesse circuito são os panfletos (também proibidos) o principal problema. Segundo o governo, 130 materiais do tipo são apreendidos por dia.

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