A dona de casa Jandira Silveira, de 33 anos, entende bem o significado da expressão "área de risco". Moradora da encosta de um barranco de 54 metros de altura no bairro Cidade Julia, na zona sul, ela viu o filho Neyvan, de 4 anos, pendurado no morro, segurando-se apenas na borda da laje. "Ele foi jogar um copo de danoninho lá para baixo e se desequilibrou", lembra. "Quase caiu. Sorte que meu marido foi rápido e puxou ele para cima." Depois disso, a família tomou uma atitude: o marido de Jandira arranjou uma tela de proteção laranja, utilizada em obras para proteger os operários, e improvisou uma cerca na beira do morro. "Tem que se cuidar, né? Com quatro crianças aqui, nessa beirada, é perigoso", afirma Jandira. Sair do barranco, porém, está fora de cogitação. "Não podemos pagar aluguel. Aqui, vivemos no perigo, mas é o único lugar que conseguimos viver", diz a dona de casa, que se sustenta - ela, o marido e quatro filhos - com os R$ 380 que ele recebe como faxineiro. No ano passado, fiscais da Subprefeitura de Cidade Ademar estiveram na casa de Jandira e informaram que a construção, além de irregular, estava em área de risco - risco muito alto, segundo os técnicos. A família, porém, como outras 58 que foram notificadas no local, continuou morando ali. "Não temos o poder de polícia. Nós avisamos os moradores que eles vivem em área irregular, interditamos casas, mas não podemos retirá-los de lá", diz o subprefeito de Cidade Ademar, Edilberto Mendes. O morro onde vive Jandira é conhecido como Pedra sobre Pedra, por causa dos constantes deslizamentos que ocorrem no local. Em 2003, na gestão Marta Suplicy (PT), foi construído um muro de contenção na área, mas a obra parou na metade. "Provavelmente, faltaram recursos", afirma Mendes. "Mas já temos o projeto para reforçar o que está faltando." A previsão da Prefeitura é de que a obra, que vai custar cerca de R$ 3 milhões, comece em cerca de 60 dias e esteja pronta até o final do ano. Enquanto as obras não saem, os moradores se viram como podem. Na parte de baixo do Pedra sobre Pedra, a própria comunidade tentou improvisar uma contenção no morro. Mas nem os 15 sacos de cimento que jogaram na terra adiantaram. "Choveu, deslizou a terra, cobriu tudo", lembra a doméstica Cláudia Souza, de 30 anos. "Isso aqui não é Pedra sobre Pedra. Está bem mais para ?Pedra sobre barracos?", diz. "Cai de tudo. Um dia, depois de uma chuva forte, voltei para casa e encontrei um sofá, todo destruído, bem na porta. Veio lá de cima", conta Cláudia. Jandira, metros acima, garante que sofá não caiu. "Acho que a última coisa que perdi foi uma camisola, que voou no vento", diz, apontando as raízes expostas de uma árvore, onde param as peças perdidas.