'Não se pode chamar aquilo de rebelião. Foi um massacre', diz defensor

Em entrevista ao Estado, Arthur Macedo, defensor público do Amazonas destaca armamento dentro de presídios e avalia que sistema deve ser revisto

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Por Marco Antônio Carvalho
Atualização:
56 presos foram mortos em presídio de Manaus Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

Qual sua impressão sobre o que aconteceu no Compaj após a visita realizada?

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O que aconteceu lá dentro foi uma barbárie porque pessoas foram decapitadas. Eles não divulgaram a quantidade de mortos, já que muitos estavam sem braços, sem pernas, não tinha como conseguir identificar essas vítimas. Quando cheguei ao complexo, a situação já estava normalizada. Na entrada, tinha muitos familiares, todos angustiados, nervosos, porque não tinham informações sobre o que tinha acontecido, se os seus entes estavam entre os falecidos. A situação que aconteceu hoje não pode ser chamada nem de rebelião, chama-se de massacre. 

Como atua a Defensoria na área de execução penal? 

Atuamos na maioria dos processos de Execução penal, e há só dois defensores para atuar nesta área. Representamos a maioria no Compaj, por exemplo, que tem mais de 1,2 mil presos, já que muitos não têm condições econômicas para contratar um advogado. 

O que pode ter contribuído para o número elevado de mortes?

Há uma questão muito maior envolvida. Há imagens, por exemplo, de detentos com escopeta dentro do presídio. Como isso aconteceu? Imagino que não seja fácil entrar num ambiente como uma penitenciária, que era para ser bastante vigiada, com uma arma desse porte. Isso demonstra que o ataque poderia ter ocorrido a qualquer momento porque havia esse tipo de armamento dentro das celas. O sistema precisa ser revisto. Infelizmente, o que foi visto é uma demonstração de poder dessa facção, tanto dentro quanto fora das cadeias. A sociedade fica com medo do que pode acontecer. A falta de estrutura que do sistema penitenciário acaba fortalecendo essas organizações criminosas.

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