
05 de fevereiro de 2011 | 00h00
A tendência é que o Executivo envie ao Congresso medida provisória fixando o mínimo em R$ 545 e aguarde o desdobramento das negociações com parlamentares. A oposição já anunciou que votará por um valor maior. Nos bastidores do Planalto, já se admite um mínimo de R$ 550 e alguma correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A correção, porém, só deverá ser levada à mesa quando o mínimo estiver prestes a ser votado no Congresso.
"Estamos incomodados com o início do governo Dilma. É uma tentativa do mercado de mandar em tudo e não vamos concordar com isso", disse o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho. "Essa reunião foi frustrante", resumiu. O sindicalista afirmou que Lula inaugurou uma política de valorização dos mais pobres e "sempre interveio em favor dos trabalhadores".
O presidente da União-Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, endossou o discurso de Paulinho. "Estamos um pouco surpresos. Ela (Dilma) não nos atendeu ainda e engessou as negociações. Isso está dificultando muito", reclamou.
Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva, destacou que os sindicalistas não vão abrir mão do aumento real do salário mínimo e da correção da tabela do IR. "Queremos a continuidade do que foi feito no governo Lula", afirmou.
Para dificultar ainda mais a negociação, as centrais resolveram atrelar a discussão do mínimo a outros dois itens: "Só vamos aceitar um acordo com o governo com três condições: aumento do salário mínimo, do valor das aposentadorias e também a correção da tabela do imposto de renda", afirmou Paulinho.
Defesa. Os ministros Mantega e Carvalho negaram que a proposta do governo Dilma Rousseff seja distinta da adotada por Lula. Segundo eles, está sendo aplicado o mesmo acordo feito pelo ex-presidente com as centrais em 2007, que definiu o reajuste salarial a partir da inflação e do resultado do PIB.
"Não é verdade que haja uma ruptura", disse Carvalho. As centrais têm dificuldade em manter o acordo pelo fato de o PIB de 2009, com a crise internacional, ter sido 0,6% negativo." O governo havia cogitado antecipar parte do reajuste que seria aplicado em 2012, mas a ideia foi abandonada. "Eles querem uma exceção para 2011. Aí fica uma negociação aleatória", explicou Guido Mantega.
O ministro da Fazenda ressaltou que é importante para o governo manter a regra em vigor. "Gostaríamos de dar um aumento maior, mas isso fere o acordo." Mantega também lembrou que o governo enfrenta um ano de dificuldades orçamentárias e de contenção de gastos.
"Com esse acordo, os ganhos do salário mínimo para 2012 já estão assegurados e serão expressivos", afirmou o ministro. Para o próximo ano, o mínimo deve subir 12,5%, levando-se em consideração estimativas do Ministério da Fazenda. A pasta prevê crescimento do PIB de 7,5% em 2010 e inflação oficial de 5% em 2011. Com base nesses cálculos o mínimo subiria para R$ 613,00 em 2012.
"Não há razão para mudar o acordo", insistiu Gilberto Carvalho. Segundo ele, "não havendo acordo" o governo enviará ao Congresso a proposta de reajuste considerando a regra aplicada a partir de 2007. "Seguiremos tentando convencer as centrais e não cansaremos do diálogo", ressaltou Carvalho.
Calado. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que participou do encontro com os sindicalistas e é do mesmo partido de Paulinho, não estava presente na entrevista coletiva concedida ao final da reunião. Segundo Carvalho, Lupi tinha outro compromisso, mas concorda com a proposta do governo. "Quando está no governo, você não defende uma posição pessoal e sim uma posição do conjunto." / RICARDO LEOPOLDO e DAIENE CARDOSO, DA AGÊNCIA ESTADO
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