Nem bairro nobre escapa das enchentes em Teresina

Água invadiu casarões e garagens de prédios de luxo e fechou shopping

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Por Ricardo Brandt
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O empresário Marconi Dias Lopes Filho, de 52 anos, mora com a mulher, a teóloga Solange Castro Lopes, de 51, a filha Fernanda, de 25, e a sogra, Nazir, de 79, numa confortável casa num dos pontos mais cobiçados de Teresina, o bairro Jockey Clube. "Quando vi a água chegar à calçada, chamei meus funcionários para levar meus móveis para o segundo andar da casa e ergui uma espécie de muro de contenção na frente do portão", conta, mostrando a barragem de tijolos e cimento de 30 centímetros, que além da água, impede a entrada de carros na garagem. "Depois derrubo." Não é a primeira vez que Teresina sofre com as enchentes dos Rios Poti e Parnaíba. Em 2008, 2004 e 1985 (considerada a pior de todas), as águas dos rios já haviam transbordado. Mas, em um aspecto, as cheias de 2009 entrarão para a história. Pela primeira vez, as ruas de metro quadrado mais caro foram tomadas por uma água barrenta que invadiu casas, derrubou portões e arrastou carros. A elite, pela primeira vez, sentiu na pele um problema que geralmente afeta os pobres. O Shopping Riverside, preferido dos endinheirados por concentrar as marcas mais caras, e um dos prédios comerciais mais sofisticados, o EuroBusiness, fecharam as portas. Na semana de uma das datas de melhor venda, o Dia das Mães, o shopping ficou dois dias sem funcionar e sem energia. "Dois dias sem faturamento é um prejuízo muito grande, mas acreditamos que vamos recuperar isso até o fim de semana. O shopping voltou a lotar, depois que as águas começaram a baixar", diz a gerente de Marketing do Riverside, Girly Falcão. O shopping tem 213 lojas e estabelecimentos de serviços. O local não foi alagado. Na zona leste da cidade, o bairro Jockey Clube concentra os casarões e prédios de alto padrão. Alguns deles tiveram estacionamentos subterrâneos transformados em piscinas e as famílias tiveram de dormir em casas de parentes e amigos. Em muitas ruas, o acesso foi interditado. A área leste fica isolada da região central pelo Rio Poti. Das três pontes que ligam ao resto da capital, uma ficou totalmente aberta durante os quatro dias mais críticos da enchente (de domingo à quarta-feira). As ruas estão com o asfalto esburacado e há crateras abertas em algumas vias. Para quem mora nas partes mais baixas, o jeito foi suspender os móveis da casa ou retirá-los para que não fossem estragados. O que difere o alagado que veste Prada do alagado que mal tem o que vestir é como os ricos podem se virar durante as enchentes e a capacidade de reconstrução. A maioria não precisou da ajuda da Defesa Civil nem pediu ajuda à prefeitura e tampouco terá problema para comprar novos móveis e eletrodomésticos. "Minha casa era mais baixa quando nos mudamos para cá. Ergui a frente em 80 centímetros para evitar que a água da rua invadisse", explica o empresário. "Moro numa boa casa, de frente para o shopping e ao lado de uma das mais belas avenidas da cidade. Vou sair por quê?" Lopes Filho está terminando no fundo do terreno uma segunda casa, com quatro suítes, onde abrigou os seus móveis.

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