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''''Nem sempre a culpa é de toda a sociedade''''

Economista diz que responsabilizar pobres pela própria situação[br]é uma agenda de ?direita?, mas necessária

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Por Redação
Atualização:

Mas são escolhas? A responsabilização dos pobres pela situação em que vivem é uma agenda "da direita", reconheço. Aliás, é o cerne do pensamento de direita nos EUA. Mas lá eles enxergam o país como uma terra de oportunidades - quem "escolheu" não aproveitar isso paga um preço. Essa visão não se aplica ao Brasil. Mas acho que não devemos, por isso, evitar o tema. Acho que as políticas públicas deveriam atuar sobretudo nos casos em que a escolha é menor, ou seja, no caso dos filhos indesejados. Escolhas não dependem de informação e condições de vida? Se a decisão foi informada, é uma decisão. Mas a pesquisa que fiz não tem condições de saber. O que a teoria econômica sabe é que há razões que explicam por que pobres têm mais filhos do que ricos. Se você tem mais educação, seu trabalho vale mais no mercado. E os filhos que você tiver e quiser educar custarão mais. A educação é uma questão central. O Brasil não conseguia dar escolas para todos. Agora consegue. O problema está na qualidade da escola, sobretudo da pública. Com recursos do PAC, o governo do Rio quer urbanizar Rocinha, Alemão e Manguinhos. Nelas há 25 mil crianças de até 6 anos e a maioria não tem acesso a creches nem a pré-escola. Isso não limita demais as escolhas dos pais destas crianças? É uma tremenda forma de estreitar escolhas. Pesquisas feitas nos EUA mostram que crianças que freqüentam a pré-escola têm um repertório vocabular três vezes maior. Dizer que os pobres tomam decisões erradas, por isso têm muitos filhos que depois podem ser pessoas violentas, é leitura fascista. Agora, dizer que tudo é culpa da sociedade também é errado. Um jovem que sai por aí fazendo filhos em mulheres que abandona tem, sim, responsabilidade pela situação que ajuda a criar. O ruim dessa visão de que ?tudo é culpa de toda a sociedade? é que se passa a aceitar uma certa romantização do banditismo. Que romantização? Marcinho VP, retratado no livro Abusado, matou um monte, teve filhos com várias mulheres. Não consigo achar que ele é exemplo de nada só por ser mais inteligente que a média, por se interessar por livros. Sei que essa posição é meio de direita, mas acho que pessoas como ele têm margem para fazer escolhas e fazem as escolhas erradas. Será possível com o mesmo grau de evidência dizer quem daqui a 20 anos cometerá crimes do colarinho-branco? Crime do colarinho-branco tem motivação econômica óbvia. Isso é fácil de compreender, é crime racional. Mas no Brasil é difícil punir, por razões que decorrem do sistema jurídico. Que razões? Nosso sistema não aceita prova circunstancial. Nos EUA há gente condenada a longas penas com base em provas circunstanciais. Isso faz com que a probabilidade de um inocente ser condenado no Brasil seja zero. Mas há uma fatalidade estatística: se a probabilidade de o inocente ser condenado é zero, a do culpado também é zero. Nos EUA há um monte de inocentes presos e a sociedade não vê problema. Acha que é o preço a pagar para que se punam culpados. Confesso que, se tivesse que escolher um sistema, escolheria o nosso.

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