Nenê da Vila Matilde aposta no folclore para ganhar o título

Escola vai levar para o Sambódromo tradições do povo segundo trabalho do historiador Luís da Câmara Cascudo

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Por Marcela Spinosa e do Jornal Da Tarde
Atualização:

O tema da escola de samba Nenê de Vila Matilde é um desafio à criatividade do carnavalesco Augusto Oliveira: falar do rico universo do folclore brasileiro em apenas uma hora de desfile. A agremiação vai levar para o Sambódromo as tradições do povo a partir do trabalho do historiador Luís da Câmara Cascudo. "Não é para qualquer um", admite. "Queremos tornar ainda mais pública a figura de Cascudo, que completaria 110 anos este ano, se estivesse vivo, e algumas das manifestações culturais que representam nosso povo", afirma Oliveira. Oliveira usou as pesquisas dos dois volumes do título Antologia do Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, para elaborar o desfile deste ano da Nenê da Vila Matilde. "É uma obra que trata o folclore como ciência", afirma. "Será uma festa com coisas que são da nossa cultura, como a dança e a literatura", acrescenta o presidente da agremiação, Alberto Alves da Silva Filho. O enredo da Nenê começa no Nordeste, terra do historiador homenageado, e fala das tradições das danças e festas populares, como o maracatu. O abre-alas trará fotos de Cascudo em duas velas de jangadas usadas no Nordeste. "A embarcação é o símbolo da bravura dos nordestinos. Fazemos uma alusão com Cascudo porque ele foi bravo ao viajar o País para pesquisar nossa cultura", explica o carnavalesco. Depois, o desfile segue para a região Norte mostrando as lendas e a vida dos índios. No Centro-Oeste, o destaque é o artesanato local. No Sul, a escola vai mostrar os imigrantes que chegaram ao Brasil e as suas influências, além de falar das cantigas infantis e de roda. O desfile termina no Sudeste, onde vai falar do carnaval de São Paulo. A bateria da escola vai trazer uma novidade: "Os componentes estarão com a cara pintada de preto representando o maracatu cearense", revela o carnavalesco. A Nenê será a última escola a desfilar do Grupo Especial, por volta das 5 da manhã do sábado. "É um bom horário porque as roupas e os carros estão com muito brilho e colorido", acredita Oliveira. Samba-enredo Pra encantar a avenida A águia vem mistificar De boca em boca, pai pra filho O modo de agir, sentir e pensar (ô potiguar) Câmara Cascudo mostrou para o mundo o folclore popular Brasil da miscigenação, nosso povo estende as mãos Vamos mestiçar Costumes do nordeste... oxente, cabra da peste Vem pro forró dançar, poeira levantar Maracatu, festa junina boi-bumbá no norte, Parintins, o ponto nobre Pro mau olhado tem reza forte O pajé pode salvar Ferraduras e carrancas... patuás Quem foi que deixou o espelho se quebrar? No centro-oeste não pesque sem oração (Porque) assombração vai te pegar No sul brinquei de cabra cega e amarelinha E reparei num lindo canto que ouvia Até o saci se encantou não é chula, nem fandango e perguntou: - que som é esse? Que cadência diferente protegida pelos deuses Me responda, quem vem lá Eu sou Nenê! da culinária, batucada e carnaval No sudeste a festa é pra valer Folclore vivo nesse amanhecer Minha escola de samba é evolução Bateria de bamba, toca até jongo e baião A nossa bandeira, manto sagrado Gueto azul e branco, mito respeitado

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