No Canecão, Lula agradece apoio de artistas

O presidente também se comparou ao libertador da Índia, Mahatma Gandhi, que, segundo ele, não descansou enquanto não libertou seu país do jugo colonial

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Lula aproveitou o ato de artistas, intelectuais e desportistas nesta terça-feira, no Canecão, no Rio, para fazer um agradecimento ao apoio que recebeu de artistas por causa das denúncias de corrupção em seu governo. Em pronunciamento para cerca de duas mil pessoas, o presidente agradeceu aos compositores Wagner Tiso, que estava presente, e Chico Buarque de Holanda, que mandou mensagem de apoio. Tiso, que o defendeu em reunião de intelectuais, ainda no primeiro turno, foi muito criticado, acusado de defender uma concepção política contrária à ética. "Acho que a gente não pode deixar de falar num companheiro como o Wagner Tiso que está aí", afirmou o presidente, provocando aplausos na platéia. "A gente não pode deixar de falar no Chico Buarque de Holanda. Não foram fáceis os momentos. Nunca pensei que fosse ter tantos problemas a partir do meu próprio partido", afirmou ele, referindo-se aos diversos escândalos de corrupção que envolveram petistas desde 2004. "Acho que é um teste que Deus está fazendo para ver se a gente agüenta a marimba." O presidente também se comparou ao libertador da Índia, Mahatma Gandhi, que, segundo ele, não descansou enquanto não libertou seu país do jugo colonial. O discurso do presidente encerrou uma longa manifestação que teve a presença de nove ministros de Estado, dois governadores eleitos e um governador, Jorge Viana, do Acre. Lula foi saudado por representantes da intelectualidade, artistas, jovens e atletas. Por estes discursou o campeão de Boxe Acelino Freitas, o Popó, que lhe deu um par de luvas, segundo ele porque é preciso mão firme no segundo turno. "Leva ele (Popó) no debate", gritou um dos assistentes quando o pugilista foi anunciado. O mestre de cerimônias, o presidente da Funarte, Antonio Grassi, leu mensagens de artistas simpatizantes de Lula que não compareceram ao encontro, entre as quais uma de Chico Buarque de Holanda. "Voto no Lula porque ele sempre foi sensível às necessidades do povo brasileiro", escreveu o compositor. Os convidados foram acomodados em mesas com lugar marcado. Nas primeiras mesas, na frente do palco, estavam artistas como Wagner Tiso, Beth Carvalho, o ator Sérgio Mamberti e Alcione. Para boa parte dos artistas, que decidiram reencontrar Lula ontem, pouco mudou em quatro anos na forma como vêem o presidente. "Há quatro anos, tínhamos a expectativa de eleger um presidente oriundo do povo. Dessa vez, estamos na expectativa de reelegê-lo. Porque ele fez um grande governo", afirmou Tiso, que causou polêmica este ano ao minimizar desvios éticos do governo Lula. "Isso que eu disse foi usado de maneira errada. Sou um dos artistas mais éticos que eu conheço", justificou. Ao lado do compositor, a cantora Beth Carvalho, que é vice-presidente de honra do PDT, disse que pensa em deixar o partido por causa da neutralidade da legenda no segundo turno. "Ficar neutro neste momento tão grave é de fato negar todos os ideais de Jango, Vargas e Brizola, que estaria aqui se estivesse vivo", declarou. Sobre os escândalos de corrupção, a cantora disse: "Ninguém está aqui passando a mão na cabeça de ninguém, mas não consigo agüentar o discurso moralista da direita." O produtor de cinema Luiz Carlos Barreto concordou, dizendo que os petistas não cometeram desvios para enriquecer, e lembrou que houve denúncias de compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição no governo do PSDB. No entanto, ele elogiou o candidato tucano, Geraldo Alckmin. "O Brasil tem sorte de ter dois candidatos tão bons." O presidente chegou ao Canecão com mais de uma hora de atraso. Na platéia havia personalidades de várias gerações, como a atriz Leandra Leal, o jogador de vôlei Maurício e a comediante Dercy Gonçalves, a quem Lula fez questão de cumprimentar do palco. Entre os representantes da academia, estavam o reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, e o físico Luiz Pinguelli Rosa. As coordenadoras da campanha de Lula no Rio e em São Paulo, Benedita da Silva e Marta Suplicy, foram as primeiras chamadas para ocupar as cadeiras no palco. Na chegada, a ex-prefeita ponderou que os artistas já foram mais influentes em campanhas políticas. "Eles apanharam muito ao se envolver com política e estão mais cuidadosos. Alguns são hoje mais ou menos militantes, mas admiro os artistas que se posicionam, porque eles também são cidadãos." Lula e a primeira-dama Marisa Letícia se sentaram no centro do palco entre o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral. Também estavam no palco ministros como Celso Amorim, das Relações Exteriores, Patrus Ananias, e Luiz Dulci, além do presidente do PT e coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia, e os governadores eleitos Marcelo Déda e Jacques Wagner, do Sergipe e Bahia, respectivamente. Gil arrancou aplausos da platéia ao apresentar como proposta para o segundo mandato de Lula a ampliação para 1% do orçamento da União a verba para a Cultura, projeto que alimenta desde o primeiro ano de governo. Quando fez um agradecimento ao presidente Lula e à equipe do Ministério da Cultura, Gil foi interrompido pelo coro da platéia pedindo que ele permaneça no cargo.

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