No ônibus, peça de boas maneiras

Apresentação em veículos da EMTU ?incomoda? e faz usuário rever hábitos

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Por Fernanda Aranda e SÃO PAULO
Atualização:

O nome da dupla não é dos dez mais sofisticados, mas é a parceria entre Escovão e Touquinha que tem levado aulas de etiqueta para dentro dos ônibus de São Paulo. De segunda a sexta-feira, os atores avançam pela catraca e começam a "incomodar" os passageiros de todas as formas possíveis. Falam alto, escutam música no último volume, jogam papel no chão, não dão lugar para idosos e esquecem até das grávidas. Em minutos, viram "espelho" de alguns usuários que ocupam papel de plateia."É a tentativa de disseminar gentileza entre os pontos de parada", resume Escovão, identidade assumida por Aliu Coelho, de 31 anos, ator há nove anos. Todo dia, durante no mínimo seis viagens dentro dos veículos da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (Emtu), a dupla parte sempre ou do Terminal Jabaquara, na zona sul, ou de São Mateus, na zona leste, para espalhar o manual do "passageiro ideal". "Você não vale nada, mas eu gosto de você", hit da novela Caminho das Índias, é a trilha que inicia o espetáculo. "Temos o intervalo de quatro pontos em média para representar as situações do cotidiano dos ônibus e passar uma mensagem", conta César Augustos Finhana, de 28 anos, o Touquinha, uma espécie de office-boy mal educado que consegue, em menos de 2 m² no corredor do coletivo, infringir todas as regras de respeito ao próximo, com um toque de bom humor. A iniciativa é da EMTU, começou de forma experimental em março, mas ganhou o público. Antes, o teatro a bordo dos ônibus só acontecia de segunda a quarta-feira. Agora, foi expandido para todos os dias úteis. O trajeto é variado, sempre com destino às cidades da Grande São Paulo, como São Bernardo do Campo e Ferraz. As peças de boas maneiras são oferecidas por uma dupla de atores da companhia de Fernando Lyra. A reportagem acompanhou uma dessas viagens teatrais e registrou as reações. Assim que Escovão e Touquinha passavam a disparar peraltices, os olhos constrangidos tentavam disfarçar que cometem os mesmos pecados da dupla. Desligavam o som alto, tiravam a mochila das costas para facilitar a passagem dentro do ônibus, jogavam lixo no lixo e até olhavam para ver se alguém da terceira idade não precisava sentar. "Esse aí é bem mal-educado, mas eu convivo com piores", afirmava Cecília Kottke, de 68 anos, que pega ônibus todos os dias para ir ao curso de literatura. "Adorei essa história de teatro educativo", vibrava. O teatro nos ônibus já tem próximas missões. Vai abordar dicas de segurança e reciclagem. Os roteiristas são os próprios motoristas, que, com ajuda de Lyra, levam as demandas para definir os temas. Uma das principais virtudes do espetáculo, contam os atores, é que os espectadores podem até estar acostumados com os pecados apresentados, mas muitos assistem a uma peça pela primeira vez. "Isso é o maior barato", dizem Escovão e Touquinha.

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