No rap da Fundação Casa, só vitoriosos

Concurso versou sobre direito à vida

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Por Fernanda Aranda
Atualização:

Microfone para cima, balanço com o corpo, cara sisuda. Quem escutava as palavras em rima na batida hip hop, fruto da criatividade de quem há pouco ainda tinha dentes de leite, se surpreendia com a qualidade. A pouca idade (havia participante de 13 anos) contrastou com o repertório. Este foi o concurso de rap dos internos da Fundação Casa, que aconteceu ontem à noite, no Memorial da América Latina, zona oeste. No palco, fôlego e orgulho deram forma, e tom, aos rostos adolescentes que já foram a cara do crime juvenil. As estrofes criadas pelos 14 grupos finalistas superam a tentativa de evitar o clichê. Impossível não pensar em vitória coletiva. "Agora eu sou artista, não sou bandido", dizia um deles antes de pisar pela primeira vez em um palco. A outra garota interna, que durante seis anos dormiu na rua, repetia antes do anúncio do vencedor que "aquele ensaio era o dia mais feliz da vida". O tema do festival foi Ter Direito à Vida, Ter Direito Igual. "O caminho da arte talvez seja o que traz resultados mais rápidos", apostava ontem o gerente de Arte e Cultura da fundação, Guilherme Nico. Esperança alimentada com as letras. "Agora que aprendi, vou ensinar. Que meu estudo eu não quero mais deixar", cantou o Pequenos Humildes. Já o Guerreiros da Vida disse: "Não quero me envolver nessa estatística/Aqui é mais um preto só que realista/ Vencer a desigualdade para mim é uma medalha/ Ouro ou diamante não paga essa batalha." Ontem, o rap do Consciência Ativa, Direitos de uma Vida, conquistou o 1º lugar, eleito pelo júri formado por astros do rap, como Thaíde e Alexandre Buzo. Mas, para chegar à final, todos os 50 meninos venceram abandono e preconceito. No fim das contas, ninguém saiu triste.

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