Nordeste é a região mais perigosa do Brasil pelo 3º ano

Taxa de homicídios manteve-se na casa dos 40 por 100 mil habitantes em 2013, um pouco à frente do Centro-Oeste e do Norte

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Por José Roberto de Toledo e Diego Rabatone
3 min de leitura
Brejo dosSantos (PB) éa cidade com maior índice de homicídios em 2013 no Brasil Foto: Lourival Sant'Anna/Estadão

Pelo terceiro ano seguido, o Nordeste é a região mais perigosa do Brasil. A taxa nordestina de homicídios manteve-se na casa dos 40 por 100 mil habitantes em 2013, um pouco à frente das do Centro-Oeste (37/100 mil) e do Norte (36/100 mil). A novidade é que a epidemia de violência que assola a região desde meados da década passada se espraiou, em especial no Ceará, que se tornou o segundo Estado brasileiro mais perigoso para seus habitantes.

Dos 9 Estados nordestinos, a taxa de homicídios cresceu significativamente em 5. Além do Ceará, onde o coeficiente de assassinatos aumentou 14% entre 2012 e 2013, também cresceram as taxas do Rio Grande do Norte (19%), Maranhão (19%), Piauí (18%) e Sergipe (6%). Na Paraíba e em Alagoas, o risco de um morador morrer assassinado ficou estável, mas em patamares muito altos. Em Pernambuco e na Bahia, as taxas caíram ligeiramente.

Os coeficientes de homicídio foram calculados pelo Estadão Dados com base nas estatísticas preliminares do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, publicadas no site do Datasus. Os dados ainda podem sofrer alterações, mas é improvável que isso venha a mudar essencialmente as análises.

A taxa de assassinato estimada pelo Estadão Dados é diferente das taxas tradicionalmente calculadas. Ela soma às mortes por agressão – como os homicídios são tratados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – parte das mortes violentas classificadas na rubrica “eventos cuja intenção é indeterminada”. Isso porque aí se ocultam homicídios, dependendo da região do Brasil.

Alagoas segue isolado como Estado mais violento do País, com o registro de 65 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes em 2013. A taxa alagoana havia sido de 64/100 mil em 2012. Se fosse um país, seria o segundo mais violento do mundo, atrás apenas de Honduras (90/100 mil), e à frente da Venezuela (54) – segundo dados de 2012 publicados pelo Banco Mundial.

O Ceará subiu duas posições no ranking de 2013, pulando do quarto para o segundo lugar. Foram cerca de 600 homicídios a mais do que em 2012, fazendo a taxa cearense saltar de 45/100 mil para 51/100 mil em apenas um ano. A tendência de crescimento vem desde o começo do século. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, a taxa de homicídios no Ceará era de 20/100 mil, e o Estado ocupava apenas a 19.ª colocação. Cresceu 150% desde então.

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Não foi só lá. O crescimento das taxas de homicídio foi igualmente alto no mesmo período em outros Estados nordestinos: 140% no Rio Grande do Norte, 135% no Maranhão e na Paraíba – para citar os casos mais extremos. Mas as taxas também aumentaram nesses 10 anos em Alagoas, Sergipe, Bahia e Piauí. A única exceção foi Pernambuco, onde a taxa caiu um terço. Como resultado, os pernambucanos saíram do 1.º lugar no ranking da violência, em 2003, para 13.º em 2013. 

Renda maior. O aumento e o espalhamento da violência interpessoal no Nordeste coincidem com o período de maior crescimento econômico da região em décadas. Por isso, as hipóteses que têm sido levantadas para explicar o fenômeno apontam o incremento do poder de compra dos nordestinos como chamariz para expansão do tráfico de drogas na região. A disputa pelo novo mercado seria causa de novas mortes. Faltam estudos conclusivos para comprovar essa hipótese.

Além do Nordeste, chamam a atenção o crescimento dos homicídios em Roraima e em Goiás. A taxa goiana foi de 45/100 mil habitantes em 2013, levando o Estado ao 3.º lugar no ranking da violência no Brasil. Por mais que a polícia goiana destaque o assassino em série que prendeu no ano passado, ele sozinho não explica os cerca de 2,9 mil assassinatos anuais em Goiás.

Em São Paulo, a taxa de homicídio caiu 14% em 2013, levando o Estado da 25.ª para a 26.ª posição, com um coeficiente de 15/100 mil habitantes, maior apenas que o de Santa Catarina. A taxa é baixa para os padrões brasileiros, mas ainda é cinco vezes maior do que a do Chile. 

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