Nova busca da caixa-preta fracassa

Órgão francês avalia continuidade da procura; família pede à Justiça que apure responsabilidade da Air France

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Por Andrei Netto e PARIS
Atualização:

Responsável pela apuração das causas do acidente do voo Air France 447, entre o Rio de Janeiro e Paris, o Escritório de Investigações e Análises para a Aviação Civil (BEA) anunciou ontem, em Paris, o término sem sucesso da "segunda fase" de buscas das caixas-pretas da aeronave. O encerramento da operação ocorreu no mesmo dia em que a família de um dos 228 passageiros e tripulantes do Airbus A330 pediu à Justiça que investigue a Air France por responsabilidade sobre a pane das sondas de velocidade do aparelho. A confirmação de que as buscas dos destroços se encerraram temporariamente no Oceano Atlântico foi feita pelo BEA na tarde de ontem, em Paris, via nota oficial. A segunda fase, iniciada em 1º de julho, chegou ao fim com o retorno do navio científico Pourquoi Pas? a Dacar, no Senegal. "Os trabalhos permitiram completar a exploração da zona de buscas que havia sido determinada após o acidente, num raio de 75 quilômetros em relação à última mensagem de posição transmitida pelo avião às 2h10 (23h10 de Brasília)", informou a nota. Os peritos do escritório, ainda de acordo com o texto, analisarão as informações coletadas pela pesquisa e elaborarão uma nova fase de buscas, assim como decidirão os meios necessários para a localização dos destroços em alto-mar, em grandes profundidades. O presidente executivo da Airbus, Thomas Enders, se comprometeu a "apoiar a extensão da busca", contribuindo até financeiramente, conforme publicou o diário econômico francês La Tribune, no dia 30. A empresa estaria disposta a pagar "uma parte significativa" dessa nova fase de procura das caixas-pretas (vitais para saber as causas do acidente), que poderia custar entre US$ 17 milhões e US$ 28 milhões e demoraria cerca de três meses. Ao mesmo tempo em que o órgão francês emitia a nota, ele era acusado, em Toulon, no sul do país, de efetuar "comunicação política" que atenderia aos interesses da Air France e da Airbus, empresas das quais o governo - financiador do BEA - é sócio. A suspeita foi levantada pelos familiares da aeromoça Carla Mar Amado, de 31 anos, desaparecida na queda do aparelho. Jean-Claude Guidicelli, advogado da família, acusou diretamente a companhia aérea de dissimular a verdade sobre as causas da tragédia. "É preciso que a Air France pague pelo que fez e que assuma as responsabilidades pelas sondas pitot", afirmou, referindo-se aos sensores de velocidade do aparelho. "Fazem crer às famílias das vítimas que se está em busca da verdade, quando a verdade é conhecida: as sondas pitot são a causa exclusiva da queda do aparelho." A falha de funcionamento dos tubos é conhecida desde as primeiras horas após o acidente porque constava das mensagens automáticas - relevadas pelo Estado -, enviadas pelo aparelho antes da queda. No entanto, especialistas do BEA consideram-na uma falha não necessariamente determinante para o acidente. Além da apuração das causas técnicas do desastre, comandada pelo BEA, uma investigação jurídica é realizada pelo Ministério Público de Paris. Até aqui, o inquérito considera a hipótese de "homicídio involuntário".

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