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Novo comandante da PM do Rio vai suspender ato que concedia anistia a policiais

Coronel José Luís Castro Menezes vai substituir Erir Ribeiro Costa Filho, exonerado do cargo após divulgação de boletim interno da PM que tratava da anistia

Por Felipe Werneck
Atualização:

RIO - Dois meses após o início das manifestações no Rio, que ficaram marcadas por denúncias de violência policial e prisões arbitrárias, o novo comandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel José Luís Castro Menezes, disse nesta terça-feira, 6, que a tropa ainda está "buscando a medida certa" para lidar com manifestantes. Em entrevista ao lado do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, o coronel afirmou que vai "suspender e rever" a anistia concedida a PMs pelo antecessor, exonerado anteontem.

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Sobre as manifestações iniciadas em junho, o novo comandante disse que "o movimento é bonito" e afirmou que vai procurar o diálogo. Ele citou a mudança de abordagem da PM iniciada em 25 de julho durante manifestação na rua onde mora o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB). Na ocasião, após uma série de questionamentos sobre o uso de policiais infiltrados, um grupamento de 100 PMs fardados e identificados por números e letras começou a circular entre os manifestantes. "Estamos lá para garantir que possam se manifestar com segurança. Não queremos jovens saindo machucados, mutilados. Por isso estamos modificando a atuação a cada dia, buscando a medida certa. Nas três ou quatro últimas não tivemos conflitos."

O coronel afirmou, porém, que a "ideia não é fazer uma grande mudança" em sua gestão. "Não é revolução, é continuidade, o plano estratégico será mantido". Oficiais ouvidos pela reportagem aprovaram a escolha do coronel, que tem 47 anos e está na corporação desde 1987. Ele chefiava desde 2011 o 1.º Comando de Policiamento de Área, que envolve 10 batalhões das zonas sul e norte, e já foi comandante do Batalhão de Angra dos Reis e da Coordenadoria de Análises Criminais. Sobre a anistia concedida pelo antecessor a policiais que receberam punições disciplinares, Menezes disse que o ato será suspenso e revisto para que "não fique qualquer dúvida".

O coronel Fernando Belo, que preside a associação de oficiais, atribuiu o desgaste do coronel Erir Ribeiro Costa Filho à atuação da PM nas manifestações, que para ele oscilou entre a omissão e a truculência. Beltrame disse que a queda do coronel foi provocada por atos do comandante nos últimos dois meses, "muito mais pela maneira como as ações foram comunicadas do que pelo seu conteúdo". "Em um momento em que a sociedade exige transparência, sem dúvida esses movimentos geraram desgaste. Não foi por discordância, mas pela maneira de se comunicar", disse o secretário.

Em texto divulgado no Facebook, Costa Filho disse que sentia "orgulho de poder ter contado com policiais nos momentos de instabilidade social nos últimos dois meses". "Alguns querem desmerecer meus atos com informações falsas de que serei candidato. Essas intrigas só podem partir daqueles que não sabem comandar, chefiar ou dirigir."

Beltrame afirmou que eventual mudança no comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha depende de "algo concreto" contra PMs na investigação. O morador Amarildo de Souza foi levado por policiais à sede da UPP "para averiguação" no dia 14 de julho e está desaparecido desde então. As câmeras da UPP "quebraram" no dia do sumiço e o GPS das viaturas não estavam funcionando. O secretário rechaçou o uso do termo infiltrado por um jornalista e afirmou que os policiais sem farda que percorrem manifestações são "observadores".

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