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Número de pessoas que bebem antes de dirigir volta aos níveis pré-lei seca

?Acendemos a luz amarela?, diz ministro da Saúde, que defende mais empenho na fiscalização e na repressão

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde com 54,3 mil brasileiros comprova o que estatísticas de trânsito já vinham apontando: o brasileiro voltou a associar bebida e direção. Depois de sofrer uma significativa redução entre julho e agosto de 2008 - efeito da lei seca, sancionada em junho daquele ano -, a tendência de beber e dirigir se estabilizou até que, em novembro, o hábito voltou a ser incorporado por grande parcela da população. Hoje, os indicadores são semelhantes aos de 2007, antes da existência dessa legislação restritiva. Em março, 2,2% dos entrevistados admitiram beber antes de dirigir. Porcentual bem mais elevado do que o registrado em agosto, quando 0,91% admitiam dirigir depois de beber. O comportamento de risco é mais comum entre homens jovens e com alta escolaridade. De acordo com o estudo, feito ao longo de todo o ano passado, 3% dos homens admitiram associar a bebida com direção. Um porcentual muito maior do que o registrado entre o grupo feminino: 0,3%. "Acendemos a luz amarela", afirmou ontem o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao comentar os números, revelados na pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Para ele, o retrocesso nesta área deve ser combatido com fiscalização e repressão. "É preciso que a população tenha receio de dirigir depois de beber." O ministro admite que outro padrão de consciência tem de ser criado. "Mas isso leva tempo e a repressão também faz parte desse processo." Na semana passada, Temporão se reuniu com o ministro das Cidades, Márcio Fortes, e com o da Justiça, Tarso Genro, para discutir o assunto. Além da necessidade de bafômetros e de treinamento de pessoal, ele citou a importância de se fazer parcerias com municípios e com Estados, responsáveis pela maior parte da fiscalização. Uma atividade que atualmente está longe de ser ideal. Para tentar combater o retrocesso, também será lançada mais uma etapa da campanha alertando sobre os riscos de beber alcoolizado. FAIXA ETÁRIA Porto Alegre e São Paulo são as capitais que apresentam os menores índices de associação entre bebida e álcool: 0,7% e 0,8%, respectivamente, dos entrevistados. Boa Vista, com 3,3%, é a líder do País nesse comportamento. Em seguida, vem Teresina, com 3,2%. "A hipótese mais provável é que nesses locais a fiscalização seja menor", disse a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta. O estudo revela ainda outras diferenças significativas. Mostra, por exemplo, que a associação entre direção e álcool ocorre principalmente entre 25 e 34 anos, para ambos os sexos. Nessa faixa etária, 4% dos homens e 0,7% das mulheres admitem beber antes de dirigir. No grupo de pessoas com mais de 55 anos, esse indicador cai para 1,7% para o grupo masculino e 0,1%, para o feminino. ESCOLARIDADE Quando se analisa a escolaridade, se nota também que há um grupo em que o risco desse comportamento está mais presente: os que têm 12 anos ou mais de estudo. No grupo masculino com essa escolaridade, 5,6% admitiram o comportamento. Entre mulheres com a mesma escolaridade, esse porcentual foi de 0,9%. Mesmo assim, significativamente mais alto do que o registrado entre mulheres com até oito anos de estudo: 0,3%.

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