O congestionamento parece o de São Paulo. Mas é em Brasília

Metrópole que mais paga multa de estacionamento ilegal tem 1 carro para cada 2 habitantes

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Por Vannildo Mendes e BRASÍLIA
Atualização:

A utopia do trânsito civilizado, sempre fluindo porque as largas avenidas dispensavam os semáforos, acabou antes de Brasília completar 50 anos. A capital já sabe o que é o inferno motorizado, é a metrópole que mais paga multa de estacionamento ilegal e superou no mês passado a marca de 1,1 milhão de veículos - média de um carro para cada 2,3 habitantes, taxa de país europeu desenvolvido. Só no centro comercial do Plano Piloto, coração do Distrito Federal com apenas 200 mil habitantes vivendo naquele "avião" desenhado pelo arquiteto Lúcio Costa, há um déficit de 15 mil vagas para estacionar. O aniversário dos 49 anos da cidade, no dia 21 de abril, já está tomado por um debate que parece coisa de São Paulo: como destravar um trânsito que na hora do rush - pela manhã das 7 às 9 horas e à noite das 17 às 20 horas - se arrasta lentamente por avenidas largas de até seis pistas de cada lado. A semelhança com as Marginais do Tietê e do Pinheiro é evidente. A combinação da maior renda per capita do País com a péssima qualidade do transporte público, um metrô ainda incipiente e uma setorização exagerada explica a brincadeira que define o brasiliense um sujeito com cabeça, tronco e rodas. "A cidade é feita para o carro porque é divida em setores. Então, para ir de casa ao banco, à padaria ou ao cabeleireiro, o brasiliense sempre sai de carro", lembra o secretário de Transportes, Alberto Fraga. De cada dez veículos, sete rodam com apenas um passageiro. Viagens aos serviços setorizados à parte, Brasília, que está passando por um programa de "obras de alargamento" de ruas, pontes e viadutos, na hora de pico não sabe mais onde enfiar tanto carro. A taxa de motorização, hoje de 41%, superou a de Florianópolis (40%), São Paulo (37%), Curitiba (36%) e Porto Alegre (34%), as cidades mais motorizadas do Brasil. O número de veículos dobrou em oito anos: em 2000, segundo o Detran, existiam 585,4 mil carros circulando; em dezembro passado, já eram 1.046.638. A taxa de crescimento médio da frota é de mais de 8% ao ano desde 2006 - ou seja, a cada ano surgem quatro vezes mais carros do que bebês na cidade. Cantado em prosa e verso, o planejamento de Brasília nasceu capenga, sem o transporte mais eficiente do mundo, o metrô. Embora tenha começado a ser construído em 1992, só nos últimos dois anos é que o metrô passou de 55 mil passageiros por dia para os atuais 160 mil. A expansão de estações está em curso, mas ainda vai demorar muito para que o metrô ajude a descongestionar o asfalto. Como nas demais metrópoles, Brasília também discute a criação de corredores exclusivos para ônibus, sistemas de veículos leves sobre pneus (VLP) e sobre trilhos (VLT) e a construção de 600 quilômetros de ciclovias. Enquanto isso, o brasiliense arquiva na memória a história da capital em que as "tesourinhas" (trevos) faziam as vezes de semáforos. A única virtude é que, apesar de tanto carro, as faixas de pedestres são respeitadas. NÚMEROS 41% é a taxa de motorização em Brasília, superior à de São Paulo, que é de 37% 7 carros em cada 10 rodam com um só passageiro

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