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O eterno deputado agora inferniza a vida da presidente

Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara

Por Christiane Samarco , Marcelo de Moraes e BRASÍLIA
Atualização:

Ele é filho de uma das oligarquias políticas mais tradicionais do Nordeste - os Alves - e em 2002, quando Dilma Rousseff nem sonhava em disputar uma eleição, já estava no oitavo mandato de deputado federal. Mas o nome de Henrique Eduardo Alves, o líder do PMDB que começou a infernizar a vida de Dilma antes mesmo de ela se sentar na cadeira de presidente, só ganhou projeção nacional por causa de um cargo que ele não ocupou.Com 67 anos de idade e 40 anos de mandatos consecutivos na Câmara, o líder, que agora assume a função de atirador de elite do PMDB na guerra por cargos contra o PT, só se tornou conhecido no País quando a cúpula do partido impôs seu nome ao PSDB para compor a chapa presidencial de José Serra em 2002.O deputado despontou na mídia não exatamente pela distinção da vice, mas pelo processo de separação litigiosa. No processo, a disputa com a ex-mulher Mônica Azambuja Alves em torno de contas bancárias no exterior acabou virando notícia e demolindo sua vaga na chapa de Serra. Até então, Henrique era apenas mais um parlamentar de atuação política apagada e perfil de bon vivant, que sempre figurava nas listas de viagens em missão parlamentar, sobretudo as internacionais.Jogo do blocão. Foi a briga por cargos com o PT que transformou o "boa praça", de estilo conciliador, em "verbalizador oficial" dos pleitos dos peemedebistas na barganha por espaço de poder. Nessa luta, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, está na mira como "inimigo número 1 do PMDB", porque assumiu o comando do ministério tomando dois cargos estratégicos e recheados de verbas federais: a Secretaria de Atenção à Saúde e a presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).A declaração de guerra foi feita por Alves em um telefonema a Padilha. "O PMDB da Câmara vai fiscalizar seu ministério e não vamos lhe dar sossego. O partido não abrirá mão de ter o comando da Comissão de Saúde e já escalou o ex-ministro (da Saúde) Saraiva Felipe para isto."Foi a resposta à "traição" do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT). Alves não se conforma por ter aceitado o trato fechado com o ministro petista de não mexer no comando da Embratur, que permaneceria com o PT, em troca de o PMDB manter o controle da Funasa e do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). O líder está convencido de que Padilha demitiu os apadrinhados do PMDB com o aval de Palocci. Não foi a primeira ameaça de dar o troco feita por Henrique depois da vitória da presidente Dilma. Ao perceber que sua movimentação para conquistar a presidência da Câmara neste primeiro biênio do governo Dilma não daria resultado, o líder decidiu montar um "blocão parlamentar" em novembro. Reuniu PR, PP, PTB e PSC, com 199 deputados dispostos a fazer frente ao PT e pressionar o governo que nem sequer havia assumido.Bem no estilo do morde e assopra, escreveu em seu Twitter que o objetivo da manobra não era o embate com o Palácio do Planalto e o PT. "Este bloco não irá confrontar, e sim organizar o trabalho na Câmara e fora dela na composição do governo", alegou.A segunda estocada no governo já é consequência da briga pela partilha de cargos. O líder peemedebista decidiu apoiar a discussão por um valor mais elevado do que o governo deseja para o salário mínimo. Em nota oficial, Henrique Alves negou que houvesse relação entre os dois fatos. "Chegou a hora de o plenário debater e votar o salário mínimo", disse na nota."Misturar esse tema com a definição de cargos na composição natural do nosso governo é uma absurda e imperdoável irresponsabilidade", garantiu o deputado."Meio atabalhoado". Apesar de ser o decano da Câmara, Alves nunca ocupou uma posição de maior relevância na Casa, até o momento em que foi escalado pelo então líder Geddel Vieira Lima (BA) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o primeiro filtro por onde passam todas as propostas apreciadas pelos deputados.Mesmo depois de assumir a liderança formal da bancada, não foi um líder de plenário ou um tribuno. Continuou cuidando mais das articulações e negociações de bastidor, deixando a operação do plenário para vice-líderes como Eduardo Cunha (RJ) e Mendes Ribeiro (RS). Também não é um formulador.Os petistas o veem como interlocutor do PMDB, de fato e de direito, mas os líderes do partido o classificam como "um líder meio atabalhoado", capaz de surpreender o governo e o PT com movimentos bruscos. E, precisamente por isso, entendem que ele provoca desconfiança.Henrique não esconde que procura usar seu trânsito político para aprovar projetos que favoreçam o Rio Grande do Norte. O caso da proposta de construção do aeroporto de São Gonçalo, que pode gerar 30 mil empregos no Estado, é emblemático. Primeiro, o deputado buscou o apoio do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma, então candidata, para a obra. No seu Twitter, o deputado deixa clara sua ação."Como vocês sabem, a construção do aeroporto é uma novela que se arrasta há 10 anos. Foi preciso uma decisão corajosa do presidente Lula e da ex-ministra Dilma para que o modelo de concessão fosse autorizado", postou em 29 de outubro e anunciando que, por isso, Dilma era sua candidata.

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