09 de julho de 2010 | 00h00
Seria difícil contar, sem cair em clichês e sentimentalismo baratos, o drama em dois atos da derrota do Brasil, com o primeiro tempo triunfal, a falha fatal do melhor goleiro do mundo, a degringolada do time e a expulsão de Felipe Melo. Ficaria muito esquemático e previsível.
Que cérebro doentio ousaria imaginar que, na sequência seguinte, com as gozações ainda quentes nas páginas do Olé, a Argentina de Maradona levasse um zapatazo de 4 a 0? Se um roteirista escrevesse isso, só um produtor louco aceitaria, e, no máximo, admitiria um dramático 2 a 1, para consolar os brasileiros.
Nenhum produtor sério compraria a cena da volta da Argentina a Buenos Aires, depois da humilhante goleada, em que o roteirista delirava imaginando o aeroporto tomado por 10 mil torcedores gritando com paixão por Maradona e seus muchachos perdedores. Seria bonito, mas absurdo, ninguém acreditaria. "Inacreditável seria a cena no Brasil, onde o time seria esculachado", se defenderia o roteirista, "argentino adora sofrer".
O roteirista precisaria conter sua imaginação nos vertiginosos minutos finais de Holanda x Uruguai. Se chegasse a sugerir o Uruguai fazendo mais um golzinho e levando o jogo para a prorrogação e os pênaltis, teria sido demitido pelo produtor, por se plagiar no jogo com Gana. Seria melhor ficar no quase, mas mantendo o suspense até o ultimo segundo.
Para um alívio cômico, uma edição de cenas da derrota brasileira misturadas às propagandas de guerreiros cervejeiros, que valorizavam a força e a belicosidade contra o talento e a competência, pela vitória a qualquer preço, e tiveram em Felipe Melo a sua mais completa tradução.
No final feliz, Espanha, Holanda e Alemanha, os melhores times, não eram de guerreiros, jogaram limpo e com poucas faltas, e brilharam pelo talento individual e a harmonia coletiva que faltaram ao Brasil.
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