O jeito mineiro de conquistar SP

Débora Falabella adota a cidade e sobe com a irmã Cynthia ao palco do Tuca, em Perdizes, na peça ?A Serpente?

PUBLICIDADE

Por Valéria França
Atualização:

Os moradores da zona oeste da capital, mais exatamente do bairro da Pompéia, já se acostumaram a ver a atriz Débora Falabella, de 29 anos, circulando por ali. Em geral, dizem, "ela sempre está com um moço tatuado". As pessoas se referem ao seu marido, Chuck Hipólito, guitarrista da banda de rock Forgotten Boys. O casal, que mora num apartamento da região, gosta de circular a pé, tomar café na padaria - pão na chapa acompanhado de uma média -, comprar o jornal e tudo mais que precisam para o dia. "Mas ela não é de falar muito. Está sempre na dela", comentam os vizinhos. É bem verdade que ela tem um jeito muito reservado, talvez resultado de sua origem mineira, associada a uma timidez nata. A convivência tranqüila que desenvolveu em São Paulo - ela elogia a cidade, onde vive há quatro anos - revela uma imagem diferente do glamour geralmente associado aos globais. Despida de qualquer empáfia, nos últimos tempos, deu entrevistas e posou para fotos em matérias de jornais e revistas do bairro, mesmo não precisando desse tipo de divulgação. Fora das ruas, é no palco do Teatro Tuca, em Perdizes, que o paulistano tem a chance de conhecê-la melhor. Em cartaz com a peça A Serpente, de Nelson Rodrigues, até 20 de agosto, pela primeira vez contracena com a irmã Cynthia Falabella, de 36 anos, num papel difícil, em que as duas dividem a paixão pelo mesmo homem. "Débora teve um pouco de dificuldade em contracenar comigo", diz Cynthia. "É que, a partir do meio da peça, ela passa a me odiar. Há cenas em que Débora me bate e muitas vezes teve receio de me machucar." Cynthia já substitui Débora no teatro e vice-versa. Também chegaram a alternar o mesmo papel na TV. "Minha irmã me substituiu em O Clone. Eu era Mel, uma garota drogada, que passava por uma crise. Na época, fiquei doente", lembra Débora. "O diretor tinha visto minha irmã e, como somos parecidas, quis chamá-la para me substituir." Cynthia ganhou muitos elogios pelo trabalho. As duas começaram a carreira de atriz quase na mesma época, mas seguiram caminhos opostos. Cynthia se dedicou ao teatro, enquanto Débora enveredou pela televisão e, com isso, ganhou mais notoriedade. Mesmo assim, têm a mesma paixão pelos palcos. "Não teria sentido ser atriz se não fizesse teatro", diz Débora. "Na TV e no cinema, somos escolhidos para o papel. Aqui podemos decidir de fato o que queremos fazer. É o máximo", diz Débora, considerada uma atriz extremamente devotada ao trabalho e até mesmo caxias. "Ela é perfeccionista. Marcamos um ensaio para as 7 horas, ela chega às 6", diz Yara de Amaral, diretora de A Serpente. "Mas para mim está ótimo, porque somos iguais, quadradas e absolutamente exigentes." Aderbal Freire-Filho é outro diretor que se impressionou com o jeito de trabalhar da atriz. "Nunca assisti a nada dela que fosse ruim, mas só depois de dirigi-la, em O Continente Negro, vi como uma atriz tão jovem pode ter tanto domínio de seus meios de expressão." Segundo ele, Débora se integra totalmente ao papel. "Posso fazer a mesma cena dez vezes, ela repete e se aprofunda cada vez mais." ENSAIO SENSUAL Avessa aos rótulos, ela procura experimentar trabalhos diferentes. No ano passado, por exemplo, ela e o marido aceitaram fazer um ensaio sensual de moda para a revista VIP. "Entre todas as globais que já trabalhei, Débora foi a mais fácil, acessível e gentil", diz Marília de Campos Mello, editora de moda da VIP, que precisava de um roqueiro, com um estilo parecido com o de Pete Dohert (ex-noivo de Kate Moss), que usa colete e gravata fina. "Eles adoraram a idéia." Débora interpretou a garota da banda, que estaria numa turnê com o grupo. "Houve até a foto de um beijo polêmico no banheiro. A Débora aceita sugestões. Não se acha melhor do que ninguém." Se ela não fosse tão disponível, ou como diz Yara, "disposta a dragar o mundo que está à sua volta", Débora não teria conhecido o marido, há quatro anos. "Ela apareceu para ver um show da minha banda em Belo Horizonte. Puxei conversa. E perguntei o nome dela. Eu não a reconheci na hora. Ainda bem, caso contrário, acho que ficaria constrangido." Débora parece uma bonequinha de luxo, uma versão modernizada da elegância de Audrey Hepburn com a sensualidade de Natalie Portman. Na sexta-feira, chegou ao teatro de saia lápis e um casaquinho bege brilhante nas costas e sapatilha nos pés. CINEMA Na vida real, por mais que negue, Débora tem muito a ver com algumas heroínas que viveu no cinema, entre elas, a romântica Lisbela, de Lisbela e o Prisioneiro, de 2003. Ela era a mocinha romântica disposta a viver feliz para sempre com o mocinho da fita, no caso o aventureiro e conquistador Leléu, interpretado por Selton Melo. Não é à toa que o papel lhe caiu como uma luva. "Ela tem, sim, a doçura e o romantismo de Lisbela", diz o marido. "Ela adora comemorar datas importantes." Os amigos confirmam. "Débora é tão atenciosa que, num dia desses, a equipe da montagem de iluminação iria ficar sem café da manhã, porque não tinha ninguém da produção disponível para levá-lo", conta Gabriel Paiva, produtor de A Serpente. Eles passam o dia inteiro trancados no teatro. "A Débora se sensibilizou, acordou mais cedo, fez o café e levou até lá." Quando chega ao trabalho, a atriz cumprimenta um a um com um beijo e um abraço carinhoso. "São Paulo parece uma cidade dura. No início é mesmo difícil estabelecer vínculos. Mas, quando se vencem as barreiras, se conquistam relações verdadeiras", diz Débora. "No Rio, você encontra as pessoas na praia e, às vezes, nem sabe direito onde elas moram. Em São Paulo, elas vão a sua casa."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.