O poder volta ao Palácio dos Campos Elísios

Avança reforma da antiga sede estadual, sob os olhares de Serra, que pode até despachar lá em 2010

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Por Diego Zanchetta
Atualização:

No subsolo do desativado Palácio Campos Elísios, na região central de São Paulo, três estudantes de artes plásticas passam o dia pinçando pedrinhas de granito para reconstituir o piso com o desenho de um mosaico veneziano do século 19. Na sala ao lado, restauradores e marceneiros tentam encontrar o "DNA" da argamassa colorida usada nas figuras da fachada - inspirada no Castelo de Écouen, construído em 1535 em Paris. Na parte externa, mais de 30 operários suspensos em andaimes concluem a pintura da antiga sede do governo estadual. Com cinco anos de atraso, a restauração de uma das jóias do patrimônio histórico da capital paulista, símbolo da cultura cafeeira, saiu do papel e já é supervisionada de perto pelo governador José Serra (PSDB). A intenção do governo, não confirmada oficialmente, é criar uma extensão do gabinete do Palácio dos Bandeirantes, a partir de 2010, no centro da capital, onde o governador poderia, inclusive, hospedar chefes de Estado, como já ocorrera nas décadas de 40 e 50. São 55 pessoas que trabalham das 8 às 18 horas, cinco dias por semana, na reforma do Palácio Campos Elísios, inaugurado como um marco arquitetônico do País em 1899, na Avenida Rio Branco. Projetado pelo arquiteto alsaciano Matheus Häussler, a pedido do barão do café Elias Pacheco Chaves, o imóvel abrigou o governo do Estado de 1912 até 1965, quando houve a transferência para a nova sede, na zona sul. Várias secretarias ocuparam o palacete até 2006 - a última foi a de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento. Até o início deste ano, o projeto de restauro caminhava a passos lentos e tudo indicava que o palácio teria o mesmo destino de outros casarões da região transformados em cortiços, com a estrutura toda deteriorada. Nos últimos meses, porém, com R$ 5,3 milhões captados de patrocinadores e da Lei Rouanet, a cobertura foi trocada, com telhas de ardósia do projeto original substituindo as de amianto colocadas após o incêndio de 1967. Uma manta de alumínio revestiu o interior do prédio, para evitar infiltrações. Além disso, rachas e trincas receberam nova argamassa e os salões dos espelhos e da lareira, ambos em estilo rococó, foram descupinizados. "A idéia é recuperar os detalhes do projeto original. Tanto que precisávamos descobrir qual era a composição da argamassa usada no início do século 19 e produzir a mesma receita. Também fizemos um trabalho para reencontrar as cores da primeira pintura, que agora começam a aparecer", afirma a arquiteta Mariana Rolim, responsável pela restauração. Orientada pela cúpula do governo, a arquiteta evita falar sobre os planos de o governador criar uma extensão do gabinete no local. "O que sei é que a Secretaria de Desenvolvimento tem estudos para a ocupação do prédio", disfarça. Operários da obra, contudo, garantem: Serra já foi pessoalmente e mais de uma vez, nos últimos dois meses, verificar o andamento da reforma. Segundo a arquiteta, a conclusão da restauração ocorrerá no início de 2010. "Aí poderemos trazer de volta todo o mobiliário, obras de arte e tapeçaria que foram transferidos para o Palácio dos Bandeirantes. São 150 peças que devem voltar aqui para os Campos Elísios", completou Rolim.

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