
20 de março de 2011 | 00h00
"Os presidentes concordaram que, da mesma forma que outras organizações internacionais precisaram mudar para se tornarem mais aptas a responder aos desafios do século 21, o Conselho de Segurança das Nações Unidas também precisa reformar-se, e expressaram seu apoio a uma expansão limitada do Conselho de Segurança que aprimore suas efetividade e eficiência, bem como sua representatividade", diz o comunicado conjunto assinado pelos governantes.
Em seu pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff cobrou, de maneira explícita, reformas nos organismos de governança global, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), e se disse preocupada com a "lentidão" do processo que mantém as instituições como representantes de "um mundo antigo".
Sobre a vaga no Conselho da ONU, Dilma foi mais direta: "Aqui, senhor presidente, não nos move o interesse menor da ocupação burocrática de espaços de representação. O que nos mobiliza é a certeza que um mundo mais multilateral produzirá benefícios para a paz e harmonia entre os povos". Ela reconheceu que foram feitos progressos desde a crise financeira de 2008-2009, mas considerou as mudanças "limitadas e tardias".
Sinais. A expectativa brasileira era de que a declaração americana não passasse de amenidades sobre a paz mundial. Na avaliação do governo brasileiro, o resultado foi muito melhor que o esperado. As negociações sobre o tema evoluíram nas últimas horas, antes da chegada de Obama.
A intenção era que o Brasil recebesse um apoio nas mesmas bases do que foi dado a Índia, em novembro do ano passado. Diplomatas brasileiros procuraram, inclusive, a declaração escrita assinada à época para copiar o termo "apreço". Para os indianos, no entanto, Obama foi além e, na sua declaração, fez questão de reafirmar o apoio: "Eu posso dizer hoje que nos anos que se seguirem eu espero ver um Conselho de Segurança reformado que inclua a Índia como um membro permanente".
Para o Brasil, o apoio fica implícito no papel, e não explícito oralmente. Apesar de o tema ter sido levantado e cobrado duas vezes por Dilma Rousseff - na declaração no Palácio do Planalto e no brinde no almoço no Itamaraty -, Obama não foi tão direto. Além do "apreço", Obama disseque os "Estados Unidos vão continuar trabalhando com o Brasil e outras nações na reforma para fazer o Conselho de Segurança mais efetivo, mais eficiente e mais representativo e avançar nossa visão comum de um mundo mais seguro e pacífico".
O que mais entusiasmou os diplomatas, no entanto, foram os momentos em que o americano apoiou o avanço do papel brasileiro em fóruns internacionais. No brinde, no Itamaraty, Obama disse não apenas reconhecer o direito brasileiro a um papel maior, mas que está disposto a ajudar no que for possível.
A soma das declarações - o comunicado conjunto e a defesa da reforma do Conselho de Segurança - animou os brasileiros. Dilma teria afirmado que os resultados do encontro foram além do esperado. Para o chanceler Antonio Patriota, foi "muito positivo". "As palavras sobre a posição brasileira não foram tão explícitas. Sobre o engajamento na reforma do Conselho foram muito mais. Mas o mosaico da situação foi muito positivo", disse o porta-voz do Itamaraty, ministro Tovar Nunes.
Ambiguidade. A posição dos EUA sobre o papel internacional do Brasil ainda era muito ambígua. A questão nuclear do Irã - em que o País tentou, junto com a Turquia, um acordo para enriquecimento de urânio fora do território iraniano e terminou por desagradar as potências do Primeiro Mundo - aumentou a má vontade americana. Na época, o governo americano avaliou que o Brasil havia sido "ingênuo" nas tratativas com o Irã. Patriota afirmou, na semana passada, que esse "esfriamento" nas relações EUA-Brasil havia mudado.
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