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OEA investiga fraude em ocorrência policial em São Paulo

Policiais mataram ladrão e vítima e forjaram ocorrência em setembro de 2004

Por Agencia Estado
Atualização:

A Organização dos Estados Americanos (OEA) investiga mais um caso de impunidade de policiais no Brasil. A denúncia também atinge o Ministério Público Estadual (MPE) e a Justiça estadual. A Polícia Civil apurou que, durante uma ocorrência de roubo, policiais militares mataram vítima e ladrão, usando meios fraudulentos para transformar o crime em "resistência seguida de morte". A fraude foi desmascarada e os policiais, indiciados. Enviado ao MPE, o promotor Roberto Tardelli determinou, com a anuência da Justiça, o arquivamento do inquérito, alegando "legítima defesa". O parecer de Tardelli contraria as declarações do tenente Roberto de Arruda Júnior, que acompanhou a ocorrência e viu quando um dos policiais arrancou o ladrão desarmado do carro e o matou com dois tiros no peito. Os familiares da vítima do assalto - o comerciante e universitário Nélio Nakamura Brandão, de 24 anos - ficaram inconformados. O pesadelo de Eládia Brandão, de 27 anos, mulher de Nélio, começou às 5h20 do dia 13 de setembro de 2004. Ela e Nélio saíam de casa no Jardim São José, na zona leste, quando um Ford Courrier parou atrás do Palio do casal. Dois homens - um deles armado - roubaram o carro e fugiram. Nélio entrou em casa, pegou um revólver e saiu no encalço dos ladrões em sua moto, enquanto Eládia telefonava para a polícia. Como era normal trazer a filha de 4 anos dormindo no banco de trás, ela esqueceu que a havia deixado na casa da sogra e passou a acreditar que a filha fora levada pelos criminosos. Quando a Polícia Militar chegou, Eládia contou o caso. Iniciou-se a perseguição. Minutos depois, duas equipes chegaram à casa de Eládia perguntando se ela tinha condições de reconhecer os ladrões, inclusive ´o ocupante da moto´. Nesse momento, Elisabeti Nakamura Brandão, mãe de Nélio, que já estava na casa da nora, teve um mau pressentimento: "Meu japonesinho!" Calados, os policiais saíram. Sogra e nora se dirigiram ao 41º DP (Vila Rica). Descobriram sozinhas, graças ao alto volume do rádio de uma viatura, que dois homens baleados tinham sido levados ao Hospital do Jardim Iva. No necrotério do hospital, Eládia encontrou o marido morto com três tiros, estirado ao lado do corpo de Alexandre Cruz, de 24, um dos assaltantes. Só às 12h30, quando os policiais apresentaram a ocorrência na delegacia, Eládia e Elisabete ouviram a primeira versão: Nélio teria sido assassinado pelo assaltante Alexandre, que, por sua vez, teria morrido no tiroteio com a PM. Confundido Durante oito meses foi feita a investigação, parte dela comandada pelo delegado Luciano de Barros Faro, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O delegado concluiu que Nélio foi morto porque os policiais o confundiram com um dos assaltantes. Alexandre, o assaltante, sequer estava armado quando o soldado Luiz Domingos o arrancou do carro já ferido com um tiro nas costas, o deitou no chão e deu-lhe mais dois tiros, no peito. Segundo o delegado, os policiais arquitetaram uma história falsa: um dos PMs arranjou um revólver 38 com numeração raspada, que estava com um comerciante do bairro, e o ´plantou´ no ladrão quando ele já estava morto.

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