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Oficial da PM do Rio deve provar acusação contra secretário

Por Agencia Estado
Atualização:

O tenente-coronel da Polícia Militar Erir Ribeiro da Costa Filho, que acusou o Secretário Estadual de Esportes, Francisco de Carvalho, de conivência com o tráfico de drogas do Morro da Mangueira, tem até esta quinta-feira para provar o que disse. Ele terá de explicar também por que fez a denúncia durante a cerimônia em que passou o cargo de comandante do 4º Batalhão da PM, na última terça-feira, depois de ter perdido o posto em conseqüência de uma troca feita pelo Secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho. A denúncia foi feita em fevereiro, quando o tenente-coronel se reuniu com Carvalho ? conhecido como Chiquinho da Mangueira, por causa dos projetos sociais que desenvolve no morro ? e com três lideranças da favela. O oficial e Chiquinho divergem quanto ao que foi discutido: de acordo com o que primeiro relatou em comunicado entregue a seus superiores à época, o secretário pediu que os PMs que patrulham a favela dessem uma ?trégua? aos traficantes, que se sentiam ?acuados? e não estariam ?vendendo nada?. Já o secretário afirma que pediu apenas que o comandante evitasse fazer operações nos horários de entrada e saída de estudantes das escolas, creches e escolas técnicas da Mangueira (7 horas, meio-dia, 13 horas e 17 horas), para evitar trocas de tiros em que os jovens pudessem se ferir. Ele disse que, por causa do medo dos confrontos, a freqüência das crianças e adolescentes atendidos pelos programas sociais da Mangueira caiu, o que o deixou preocupado. ?Os pais dos alunos pediram que eu procurasse o comandante para ver de que forma isso poderia ser amenizado?, afirmou. Chiquinho é vice-presidente de Esportes e Desenvolvimento Social da Mangueira e coordena projetos como a Vila Olímpica, que tem patrocínio de grandes empresas. Antes de se reunir com o comandante, o secretário procurara o juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude, Siro Darlan, que o aconselhou a contatar o coronel. Darlan confirmou que conversou com Chiquinho. Disse que encaminhou o ofício com a solicitação de alteração nos horários das operações a Costa Filho. Do oficial, ouviu que ?o problema estava resolvido?. A versão de Chiquinho é endossada por Valdemar Brito Maciel, vice-presidente da Associação de Moradores do Complexo da Mangueira, presente ao encontro. ?Fizemos o pedido e o coronel disse que entraria no morro a hora que fosse, porque esse era o trabalho dele?, disse Maciel. Chiquinho, que resolveu processar o oficial por calúnia, injúria e difamação, acha que o tenente-coronel está ressentido por ter sido exonerado. ?Ele deve ter imaginado que eu pedi ao secretário a saída dele, mas eu não pedi nada. Se ele tivesse tido um bom rendimento, ele não teria sido afastado.? Chiquinho é do mesmo partido de Garotinho, o PSB, e foi o segundo deputado estadual mais votado da legenda nas últimas eleições. Ele acumula as funções de secretário e de presidente da Superintendência de Desportos do Estado do Rio (Suderj). O comandante da PM, coronel Renato Hottz, considerou a conduta do tenente-coronel inadequada. ?Se ele entendeu que o secretário pediu uma trégua para os traficantes, deveria ter dado voz de prisão a ele, por conivência. Ele não fez isso, passou a bola.? Ele criticou também o fato de Costa Filho ter usado a solenidade de transmissão de cargo para fazer um ?discurso político? e ainda por ter sido desleixado com seus subordinados, que cometeram falhas durante a cerimônia, como erros de continência. O discurso foi aplaudido pela tropa do 4º batalhão. Agora, o oficial terá de dar explicações por escrito. Caso seja punido, a sanção mais severa será prisão administrativa por trinta dias. Costa Filho está há cerca de 20 anos na corporação e é conhecido por ser duro combatente do tráfico de drogas. No período de quatro meses em que esteve à frente do 4º batalhão, o número de apreensões de armas e drogas aumentou e as ocorrências de bondes de traficantes desapareceram.

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