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Operação prende envolvidos em exploração e tráfico de transexuais

Vítimas eram aliciadas com a promessa de participação em concursos de beleza na Europa

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Por José Maria Tomazela
Atualização:
PF identificou o uso de redes sociais para aliciar pessoas transexuais Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

SOROCABA - Uma operação do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal prendeu, nesta quinta-feira, 9, três acusados de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual. As prisões de dois homens que se dizem "empresários do sexo" foram realizadas em Franca, interior de São Paulo, onde as investigações tiveram início. Na capital paulista, foi presa uma transexual que se tornou agente do esquema. Outras duas pessoas do Estado de Goiás tiveram as prisões decretadas e ainda são procuradas. A PF investiga a participação de outros supostos envolvidos no esquema.

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A Operação 'Fada Madrinha' foi desencadeada depois que a PF identificou o uso de redes sociais para aliciar pessoas transexuais com a promessa de participação em concursos de beleza na Europa. De acordo com a procuradora da República Sabrina Menegário, os suspeitos montaram “alojamentos” em Franca e nas cidades goianas de Aparecida de Goiânia, Jataí e Rio Verde e aliciavam as transexuais através de redes sociais, prometendo participação em concursos de beleza. 

“Já temos cerca de 25 vítimas que foram aliciadas sob a promessa de que seriam preparadas para os concursos recebendo tratamentos estéticos. Eles convidavam as transexuais para morar nos alojamentos e diziam que promoveriam melhorias em seus corpos até que atingissem a identidade sexual desejada”, disse.

Conforme a procuradora, vendo a possibilidade de realizar o sonho de atingir o padrão de beleza do gênero desejado, as transexuais aceitavam a aplicação de silicone industrial nos seios, glúteos e coxas, com a perspectiva de participarem de concursos de Miss Trans no Brasil e na Europa. “Assim que chegavam, elas eram informadas de que teriam de pagar diária de R$ 70 pelo alojamento, café da manhã e almoço, mais R$ 100 para o que chamavam de poupança de transição, ou seja, a preparação para a viagem ao exterior.” Para pagar o valor, essas pessoas eram obrigadas a se prostituir. “Eles exploravam o trabalho sexual delas, de tal forma que não podiam voltar para o alojamento sem os R$ 170. Em alguns casos, a quota diária era de R$ 200.”

Em seguida, eles iniciavam a aplicação de silicone industrial, substância usada em máquinas, proibida para uso humano, no corpo das vítimas. “Foi apurado que o produto custa R$ 300 o litro e eles cobravam R$ 1,5 mil. Tem o caso de uma transexual com nove litros de silicone no corpo, tornando-se devedora de quase R$ 15 mil.” 

Conforme a procuradora, as transexuais mais preparadas e que levaram mais dinheiro para os exploradores, eram enviadas para a Europa. “Os depoimentos indicam que pelo menos sete transexuais foram enviadas para o exterior, onde continuam sendo exploradas por eles. Monitoramos o caso de uma garota de Franca que foi para a Itália e ainda paga pela passagem, roupas e sapatos, tudo com valores absurdos. É um tipo de escravidão”, disse.

Para Sabrina, os suspeitos exploram o estado de vulnerabilidade familiar e social em que vivem essas pessoas. “São pessoas que não têm nenhuma tutela social, em quase 100% dos casos são rejeitadas pelas próprias famílias e não têm os olhos da sociedade voltados para elas. Vivem uma situação de vulnerabilidade absurda e acabam sendo vítimas de uma exploração no mínimo cruel.”

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As ordens de prisão e de buscas foram expedidas pela 2a. Vara Federal de Franca. A ação teve participação do Ministério Público do Trabalho (MPT). A PF informou que os investigados vão responder pelos crimes de tráfico internacional de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, associação criminosa, rufianismo e exercício ilegal da medicina. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.

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