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Padres 'Hi-Tech' usam até tablets na missa

Para estreitar diálogo com fiéis, sacerdotes exploram aplicativos, redes sociais e sites

Por Edison Veiga
Atualização:

É uma missa católica como qualquer outra, mas o olhar mais atento percebe que o padre carrega um tablet em vez do folheto. O sacerdote Jorge Luiz Neves da Silva, mais conhecido como Padre Jorjão, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, zona sul do Rio, costuma usar o iPad para suas leituras, orações e também a fim de acompanhar o roteiro preparado por ele para a homilia - o tradicional "sermão". "Tenho 53 anos e sou padre há 22 e, desde os tempos de seminarista, me interesso pelos avanços da tecnologia como instrumento de evangelização", diz ele, recordando que, 21 anos atrás, em vez de tablet, usava um palmtop - o suprassumo tecnológico daquela época.

Padre Jorjão, do Rio, usa redes sociais para evangelizar os jovens de Ipanema; iPad ajuda nas celebrações Foto: Fabio Motta/Estadão

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Padre Jorjão diz que segue o que a Igreja vem pedindo desde o papa Paulo VI, na encíclica Evangelii Nuntiandi, publicada em 1975, "usando os novos recursos" para a evangelização. "Desde o início, me inseri com os jovens da paróquia nas redes sociais como o Orkut, mais tarde o Facebook, criando comunidades dos jovens em que notícias, convites e encontros eram compartilhados não mais pelo telefone ou cartazes, mas por meio das redes."

"Lembro-me que, certa vez, na Jornada Mundial da Juventude de Sydney, em 2008, um grupo de jovens japoneses me reconheceu pelos vídeos da Jornada anterior, celebrada em Colônia, na Alemanha, em 2005, que nossos jovens haviam postado no YouTube", diz o padre. "Foi muito interessante quando eles disseram que foi o testemunho entusiasmado dos jovens brasileiros, nesses vídeos, que os animaram a ir até a Austrália."

Também ficou famosa a história da vez em que o padre celebrava bodas de ouro - missa em comemoração aos 50 anos de matrimônio - de um casal da paróquia. Quando percebeu que todos haviam se esquecido de câmeras fotográficas, ele não pestanejou: registrou o momento com seu iPad e enviou as imagens, pela internet, para os familiares. Nem na licença médica ele tem descanso. "É que mesmo operado do pé e, consequentemente sob prescrição médica de repouso, a pedido dos jovens da paróquia, tenho partilhado, pela internet, as homilias da missa que celebro no quarto."

Redes sociais.

Foi por necessidade que o padre Angelo Rossi, atualmente em Descalvado, no interior paulista, rendeu-se às redes sociais. "Meu contato com a internet começou em 2013. Até então, não sabia lidar com essa tecnologia", conta ele. "Essa vontade de aprender a interagir com o mundo virtual se deu porque, em maio de 2010, fui acometido por uma meningite que me fez perder a audição, me impossibilitando de estar à frente da paróquia. Precisei encontrar meios para continuar aconselhando", diz.

Desde então, o sacerdote passou a usar o Facebook para dar aconselhamentos espirituais, seja em mensagens postadas de forma pública ou em conversas em privado com os fiéis. "É apenas um relacionamento virtual, no qual posto minhas mensagens, reflexões do Evangelho e notícias relacionadas à Igreja", conta padre Angelo.

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Na web.

Quando estava na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Cianorte, no interior do Paraná, o padre Carlos Alberto de Figueiredo decidiu reformular o site da igreja e, com isso, passou a atingir muito mais católicos do que os frequentadores de suas missas.

Ele começou a postar, diariamente na internet, uma bênção virtual. "E quando pediam uma oração, era possível também acender uma vela virtual", conta o padre.

A iniciativa foi um sucesso e, em pouco tempo, o padre se tornou referência nas redes sociais. "A ideia foi usar a tecnologia como ferramenta para evangelização, já que não temos como ficar alheios ao fato de que as pessoas estão vivendo muito essa realidade do computador", diz.

Hoje, o religioso trabalha na Diocese de Umuarama, é assessor da Pastoral da Comunicação e dirige uma rádio católica. E, claro, segue postando suas bênçãos no Facebook.

Cardeal.

Com ativa conta no Twitter, o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, também usa tablet e smartphone em seu dia a dia, mas apenas para leituras e orações pessoais, conforme atesta sua assessoria. Procurado pelo

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Estado

, ele não quis comentar o tema. Também em São Paulo, o bispo d. Luiz Antonio Guedes, da Diocese de Campo Limpo, na zona sul, não só é um entusiasta das novas tecnologias como chegou a sortear um iPad em missa - na celebração de Finados de 2013, no Cemitério Gethsêmani, no Morumbi, que pertence à Igreja. A ação, conforme explicou sua assessoria, visava a atrair mais fiéis para a ocasião.

Apoio.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vê com otimismo o uso das novas tecnologias para a evangelização. O último curso de comunicação oferecido pelo órgão a bispos teve oficinas para ensiná-los a usar as redes sociais. "Cerca de 30 religiosos participaram", conta o arcebispo de Campo Grande, d. Dimas Lara Barbosa, que ocupa o posto de presidente Episcopal para a Comunicação da CNBB - e, uma curiosidade: ele próprio é formado em Engenharia Eletrônica pelo prestigiado Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos, no interior paulista.

"Temos procurado orientar os bispos para que todos usem não só as mídias tradicionais, mas também as novas. Claro que também orientamos acerca dos perigos de uma exposição excessiva nas redes sociais. E há uma função educativa da Igreja nesse quesito, não só aos religiosos, mas aos católicos de modo geral", afirma.

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