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País faz apreensão de nova droga

Comprimidos foram interceptados em Goiás; com efeitos semelhantes aos do ecstasy, mCPP já se espalhou pela Europa

Por Fabiane Leite e Rubens Santos
Atualização:

A Polícia Federal (PF) apreendeu pela primeira vez no Brasil uma nova droga sintética, o mCPP, que, nos últimos dois anos, é vendida na Europa como se fosse MDMA, o ecstasy, ou misturada a esta substância. O mCPP tem efeitos estimulantes como o ecstasy, é veiculado nos mesmos pequenos e coloridos comprimidos da droga similar, mas traz reações adversas piores, como ataques de pânico, em alguns usuários. Foram interceptados na semana passada em Goiás mil comprimidos da nova droga. Como não faz parte da lista de entorpecentes das Nações Unidas (ONU), nem da relação de substâncias controladas no Brasil e em outros países, a droga tem sido vendida como ecstasy sem que vendedores ou consumidores tenham de responder legalmente por isso. Muitos usuários nem sequer desconfiam de que se trata de um comprimido diferente. Segundo o último relatório do Centro Europeu de Monitoramento de Drogas e da Adição, o mCPP é hoje a droga "nova" mais encontrada em apreensões naquele continente. A pressão do mercado, mais do que uma demanda do usuário, explicaria a enxurrada da substância em bares e raves freqüentados por quem costumava utilizar ecstasy, informa o centro. O fato de muitos países europeus não controlarem a droga até 2005, quando foi descoberta na Polônia, pode explicar sua invasão no mercado para substituir o ecstasy. De acordo com Ires João de Souza, delegado da Regional de Combate ao Crime Organizado em Goiás, a droga apreendida no Brasil estava acondicionada num pote plástico, dentro de uma embalagem de Sedex, como se fosse medicamento comum. Ela foi encontrada na Central de Distribuição dos Correios (ECT) no dia 13, em Aparecida de Goiânia. O mCPP é largamente utilizado em pesquisas na área de psiquiatria e é um derivado de antidepressivos à venda, como a tradozona, entre outros. Mas ainda se sabe muito pouco sobre sua ação como droga "recreativa". Não há evidências, por exemplo, de que cause quadros agudos de intoxicação. Também teria baixo potencial de dependência, mas ainda não há nenhum estudo conclusivo sobre o seu uso prolongado. Sabe-se, no entanto, que o mCPP pode trazer mais efeitos adversos que o MDMA, como pânico e confusão mental, principalmente se utilizado por pessoas que abusam do álcool e de cocaína. "Ela é mais estimulante e pode levar até a ataques de pânico em algumas pessoas, além de ter uma interação perigosa com álcool. Toda droga sintética é um tiro no escuro. E, agora, quem toma ecstasy pode estar ingerindo o mCPP", afirma o psicólogo Murilo Battisti, especialista em drogas sintéticas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O destino da droga, de acordo com o Sedex encontrado em Goiás, era a cidade de Teresópolis (RJ), onde a PF também investiga o caso.

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