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Pantanal: laudo aponta aquaplanagem

Um dia antes de acidente da TAM, jato derrapou na pista de Congonhas

Por João Domingos , Luciana Nunes Leal e BRASÍLIA
Atualização:

Parecer do laboratório da Goodyear entregue ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) revela que o avião ATR 42, da Pantanal, derrapou na pista de Congonhas, no dia 16 de julho, por causa do excesso de água na pista, o que provocou a temida aquaplanagem. É a primeira vez que a hipótese é confirmada por um laudo técnico certificado. No dia seguinte, houve o acidente com o Airbus da TAM. "Depois de examinar os pneus do avião da Pantanal e verificar a ocorrência de fenômenos na borracha que só aparecem depois do contato com a água, o laboratório da Goodyer confirmou que houve aquaplanagem", disse à CPI da Câmara que investiga o apagão aéreo Ramiro Tojal, diretor-geral da Pantanal. "Não estou revelando um segredo, nossos técnicos e o Cenipa já têm conhecimento do laudo", afirmou. "Por não encontrar nenhum defeito no nosso avião, o Cenipa já o liberou para que sejam trocados o trem de pouso e outros instrumentos danificados no acidente." Nos dias que antecederam a tragédia do Airbus, pilotos que aterrissaram em Congonhas fizeram relatos de que a pista estava molhada e escorregadia. Tojal recordou à CPI o que ocorreu: "Ao liberar a pista, sem o grooving (ranhuras para evitar a aquaplanagem), a Infraero disse que a pluviometria de julho seria tão desprezível que nem apareceria nas estatísticas." Acontece que, ao contrário do previsto, choveu mais num dia do que o registrado no mesmo período nos últimos 10 anos. Tojal afirmou que a primeira chuva, no dia 13, foi intensa, levando a dois comunicados de pilotos de que a pista estava escorregadia. Nos dois dias seguintes, houve novas ocorrências quanto ao estado da pista. No dia 16, o avião da Pantanal derrapou e parou no gramado. No dia 17, foi a vez do Airbus, que estava sem um dos reversos da turbina. Na conversa registrada pela caixa-preta do Airbus, os pilotos lembraram que estavam sem o reverso esquerdo. Ao tocarem o solo, um dos motores acelerou e outro freou, de acordo com o depoimento à CPI do Apagão Aéreo do chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul Filho. A aeronave ficou desgovernada. Os pilotos ainda tentaram virar o avião, sem êxito. Tojal disse que, desde 1992, quando a Pantanal começou suas atividades, seus aviões fizeram entre 140 mil e 150 mil operações de pouso e decolagem em Congonhas. Nunca derraparam. A pista tinha o grooving. Mas, com a reforma, foi liberada sem as ranhuras. O que houve em seguida está registrada pelos pilotos, sempre com a lembrança de que a pista estava escorregadia. Os pilotos do Airbus recordaram essa condição de Congonhas, pouco menos de 30 minutos antes da tragédia. Com a revelação feita pelo diretor da Pantanal, o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) disse que já firmou convicção de que um dos motivos para a tragédia do Airbus foi a pista. E fez uma acusação grave: "A liberação da pista foi um ato de homicídio culposo (sem a intenção de matar); longe de ser doloso (com a intenção de matar), foi culposo, não tenho mais dúvidas."

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