Papa diz ter iniciado a cura da pedofilia na Igreja

'Se eu tivesse enforcado cem padres na praça de São Pedro, diriam: 'Que bom, há um fato concreto!'. Teria ocupado espaço, mas meu interesse não é ocupar espaço, mas iniciar processos de cura', afirmou o pontífice

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Por Redação
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O papa Francisco afirmou, em uma entrevista transmitida neste domingo, 31, compreender quem o critica por não agir com maior contundência contra a pedofilia na Igreja, mas defendeu ter iniciado um "processo de cura" que levará "seu tempo".

Um mês depois da histórica cúpula organizada no Vaticano para abordar a delicada questão dos abusos a menores na Igreja, o pontífice foi perguntado na rede espanhola La Sexta sobre os resultados de tal encontro, decepcionantes para muitas das vítimas.

Papa Francisco diz ter se equivocado ao chamar o feminismo de "machismo de saia" Foto: Maurizio Brambatti/EFE

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"Entendo eles, porque às vezes você busca resultados que sejam fatos concretos, no momento", afirmou Francisco."Se eu tivesse enforcado cem padres na praça de São Pedro, diriam: 'Que bom, há um fato concreto!'. Teria ocupado espaço, mas meu interesse não é ocupar espaço, mas iniciar processos de cura", continuou.

"As coisas concretas na cúpula foram iniciar processos, e isso leva seu tempo", insistiu o pontífice. Francisco reconheceu que durante muito tempo a tendência na Igreja foi esconder estes casos, o que facilitou sua propagação.

"Até o dia em que explodiu escandalosamente o assunto de Boston, a hermenêutica era [...] cobrir, tapar, evitar males futuros como se faz nas famílias", admitiu. Mas "desde a época de Boston diminuíram as coisas na igreja, o que quer dizer que se tomou uma consciência distinta, um proceder distinto", afirmou.

"Precisamos ser concretos”, disse o pontífice, diante de 190 líderes da Igreja Católica de todo o mundo Foto: VATICAN MEDIA / AFP

Na mesma entrevista, Francisco lamentou a atitude da Europa em relação aos migrantes e criticou que tenham se esquecido de quando seus cidadãos migraram para a América fugindo da Segunda Guerra Mundial. "A mãe Europa se tornou avó demais, envelheceu de repente", lamentou o pontífice argentino.

"Para mim, o maior problema da Europa é que se esqueceu de quando, depois da guerra, seus filhos iam bater nas portas da América", continuou o Papa.

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Francisco, que durante seu mandato se pronunciou frequentemente em favor dos refugiados e dos migrantes, disse sentir "muita dor" ante os milhares de migrantes mortos no Mediterrâneo e não compreender "a injustiça de quem fecha a porta para eles".

Também lançou uma advertência aos que, como o presidente americano Donald Trump, propõem construir muros para deter o fluxo de migrantes."Quem levanta um muro termina prisioneiro do muro que levantou, isso é lei universal, se dá na ordem social e na ordem pessoal (...) As alternativas são as pontes, construir pontes", afirmou.//AFP

  

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