Papa prega ‘mea-culpa’ da Igreja por histórico de dominação masculina e abusos

Em documento voltado ao papel dos jovens católicos, Francisco diz que postura 'defensiva' converte Vaticano a 'museu'

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Por Reuters e AFP
Atualização:

O papa Francisco defendeu nesta terça-feira, 2, que a Igreja Católica admita seu histórico de dominação masculina e de violência sexual contra mulheres e crianças.  O apelo faz parte de um documento com recomendações sobre o papel dos jovens na Igreja, que aborda desde os desafios da era digital – como a proliferação de notícias falsas – até questões como autoritarismo, machismo e sexualidade. 

No texto, que demonstra uma admissão parcial de falhas significativas do clero, o papa também assegura que a Igreja tomou consciência em relação a crimes de sacerdotes, e que eles são minoria. Ao mesmo tempo, também diz que a abertura a críticas não significa concordar "com tudo que certos grupos feministas propõem", em uma referência clara à proibição católica ao ordenamento de mulheres.

Papa Francisco aceita renúncia de bispo americano acusado de abuso sexual. Foto: AFP PHOTO / FILIPPO MONTEFORTE

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"Uma Igreja viva consegue contemplar a história e reconhecer uma parcela considerável de autoritarismo masculino, dominação, várias formas de escravidão, abuso e violência sexista", disse o pontífice. "Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixaa de escuchar, que não permite que a questionem, perde a juventude e se convierte em um museu."

O comentário ocorreu na apresentação de uma exortação apostólica de 50 páginas, que traz 299 pontos com as reflexões sobre uma reunião de bispos que ocorreu em outubro. No documento, Francisco também ciritica "interesses econômicos" na internet. Nesse trecho, o papa alerta para a manipulação de "processos democráticos" por meio da difusão de notícias falsas na internet que fomentam "preconceitos e ódios". 

"A proliferação das fake news é expressão de uma cultura que perdeu o sentido da verdade", disse. "A reputação das pessoas está em perigo mediante juízos sumários".

Mulheres

A defesa de um mea-culpa ocorre enquanto ao mesmo tempo em que alguns grupos de mulheres na Igreja pedem o ordenamento feminino, o que é descartado pelo alto clero. No mês passado, a equipe de uma revista mensal do Vaticano dedicada a temas femininos, feita exclusivamente por mulheres, renunciou em protesto a um novo editor da pulblicação. Elas alegam que o editor tentou limitar sua autonomia e submetê-las a um "controle masculino direto".

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A revista publicou uma série de reportagens, inclusive sobre o abuso sexual de freiras por parte de padres e freiras trabalhando de graça como servas de bispos. O editor negou as acusações. 

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