''Para SP, o silêncio era a melhor opção''

Para secretário, calar-se diante do confronto entre as Polícias Civil e Militar na frente da sede do governo do Estado foi estratégico

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Por Bruno Paes Manso
Atualização:

Buraco do Metrô com 12 dias de pasta. Reintegração de posse da reitoria da USP depois de 53 dias de ocupação. Sem falar no acidente da TAM, com 199 mortos - do episódio, Marzagão guardou o capacete, o cinturão e as botas usadas no dia da tragédia. Apesar dos problemas naturais do cargo, o secretário admite que a greve da polícia é um dos momentos mais delicados em 1 ano e 10 meses de trabalho. Onde o senhor estava? Por que desapareceu? É preciso entender que na secretaria as ações guardam, pela sua natureza, um sentido de estratégia. Tem momentos de falar e momentos em que é melhor que as pessoas não saibam o que se pensa e o que se vai fazer. Por que o silêncio ajudou? Ajudou porque assim como o senhor está intrigado sobre o que pode ser feito, poderia ter sido feito ou deixou de ser feito, houve momentos em que eu entendi que, para a administração da secretaria e para a população de São Paulo, o silêncio era a melhor posição. Mas a situação continua complicada, com riscos de a greve se espalhar pelo Brasil. O tiro não saiu pela culatra? Eu recebi de alguns colegas secretários informações diversas em relação ao movimento nacional. Agora é difícil avaliar o tamanho do movimento em São Paulo. Trabalhamos para que a greve não prejudique as pessoas. Toda vez que temos conhecimento de não atendimento de registros de boletins de ocorrência, por exemplo, encaminhamos à Delegacia Geral para providências. O call center continua funcionando. Recebemos relatórios diários. Temos a polícia que continua realizando operações, como a de ontem (Operação Parasitas). Mantivemos um nível baixíssimo de seqüestro. Setores responsáveis da polícia estão trabalhando. Mas o governo não pode avançar mais para acabar com a greve? A negociação está agora na Assembléia Legislativa. O governo já encaminhou projetos que beneficiam as três polícias. Demonstramos boa vontade, diálogo e disposição para a discussão. O projeto atende a anseios como aposentadoria especial e reestruturação da carreira, propiciando 17 mil promoções num quadro de 35 mil policiais. Saímos de uma negociação de R$ 300 milhões para R$ 830 milhões. A aprovação cabe agora aos deputados. Mas o trâmite na Assembléia é lento, precisa passar por comissões e no fim pode não atender aos anseios da categoria. Desse jeito, a greve não corre o risco de durar até o final do governo, como alertam os grevistas? Não se pode resolver problemas complexos de forma simples. Isso não depende mais de mim. Se dependesse da gente, terminaria amanhã. E se existem pessoas que dizem que a greve pode durar 720 dias, então você veja que isso cheira como uma intenção que independe da discussão salarial. O que deu errado e permitiu que quase uma tragédia acontecesse no Palácio dos Bandeirantes, quando policiais civis e militares entraram em confronto? Há um inquérito policial e militar para examinar todas as circunstâncias e eventuais faltas administrativas e disciplinares. Portanto, não vou dar minha opinião, porque há inquérito examinando se houve excessos. Vamos aguardar os resultados das investigações das corregedorias das duas polícias para termos esclarecimentos concretos. Houve mais de 30 feridos. Qual foi o erro? Estamos apurando. A punição rápida não seria importante para mostrar que o Estado não tolera excessos? Sim, mas não podemos punir sem garantir a defesa. Isso não é mais a visão do advogado de defesa do que de alguém em um cargo político? Tanto o advogado de defesa como o político estão submetidos à Constituição. O contraditório é garantia até na fase administrativa. Há boatos de que o senhor estaria para cair. Se eu fosse contar todas as doenças, exames e demissões pelos quais supostamente passei, ficaria aqui a tarde toda. São só boatos. A polícia errou no seqüestro de Santo André? Nem uma escada grande tinha. Mais uma vez, não vou fazer prejulgamento de um caso que está sendo apurado. Novos equipamentos estão chegando, como cabos óticos, licitados antes do caso. Havia equipamentos, que se desgastaram. Mas devemos respeitar a história do Gate, que salvou mais de 3 mil vidas de 1998 pra cá. Haverá licitação para uma nova escada? Nas investigações, saberemos até que ponto a falta da escada foi decisiva.

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