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Parentes fazem exame para reconhecer vítimas no Rio

Exame vai identificar corpos carbonizados das vítimas de ônibus incendiado; ruas vazias e vigiadas por reforço policial refletem onda de ataques na cidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Parentes de quatro vítimas do ônibus da Viação Itapemirim incendiado na madrugada de quinta-feira no Rio foram ao Laboratório de Genética Forense da Polícia Civil para fazer a coleta de material para o exame de DNA que vai identificar os corpos carbonizados. O ataque ao ônibus do Grupo Itapemirim foi o mais brutal de uma onda que começou na madrugada de quinta, causando 18 mortes e deixando 25 feridos. As famílias de seis das sete vítimas do ônibus procuraram a 22ª Delegacia de Polícia (Penha), para se apresentarem como parentes dos passageiros. Ainda falta para a polícia identificar a sétima vítima. O delegado Rafael Willis pediu que dois sobreviventes do ataque entrem em contato com a Itapemirim ou a polícia do Rio para se identificar. Esses dois passageiros não passaram por hospitais e a família da sétima vítima ainda não procurou a polícia, ou seja, ainda há três passageiros, entre eles um morto, não identificados. A polícia ainda não sabe o paradeiro dos passageiros José Severiano de Oliveira, Marcos Paulo Rios Silva e Guilherme Olmes da Silva. A empregada doméstica Suely da Silva Araújo, de 40 anos, perdeu a mãe, Jacy, de 63, e o irmão Celso, de 38 anos. Ela ainda tinha esperanças de encontrar os parentes com vida. "Quando saímos de São Paulo, disseram que três pessoas ainda não tinham sido identificadas, mas aqui o funcionário da Itapemirim disse logo que os mortos já estavam identificados e que a minha mãe estava entre eles", afirmou. Jacy e Celso ocupavam as poltronas 1 e 2. "O mais duro é que eles não tiveram tempo nem de se mexer. Não entendo como alguém pode queimar uma pessoa viva", disse Suely, chorando muito. Também foram ao laboratório os parentes de Orminda dos Santos Grandi, de 78 anos, e Florentino Alves Pereira, de 80 anos, amigo que viajava com Jacy e Celso. As famílias se queixam de que não tiveram apoio da Itapemirim. Ônibus Além das sete pessoas que morreram no incêndio, três passageiras do ônibus permanecem em estado grave. No Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio, estão Fernanda Daibert Furtado, que teve 54% do corpo queimado e está em "estado muito grave", e Maria da Penha S. Moraes, que teve em torno de 20% do corpo queimado, internada em "estado grave". As informações são do último boletim médico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde A terceira passageira, a modelo Maria Beatriz Furtado de Araújo, de 29 anos, mais conhecida como Bia Furtado, está internada no Hospital São Lucas. Bia, que teve 40% do corpo queimado, estava passando o Natal com a família e retornava para São Paulo, mas o ônibus foi atacado quando passava pela Avenida Brasil, zona norte do Rio. Ela teve principalmente o rosto e o tórax queimados. O ônibus fazia o trajeto Cachoeiro de Itapemirim (Espírito Santo) a São Paulo, com 28 passageiros, e foi atacado quando passava pela Avenida Brasil, na zona norte do Rio. No ataque, sete pessoas morreram carbonizadas e 12 pessoas ficaram feridas. Há ainda outros nove passageiros que fugiram do local e ainda não foram identificados. Cidade A onda de ataques contra alvos policiais e ônibus gerou um pânico generalizado refletido nesta madrugada em ruas vazias e vigiadas por um reforço de 20.734 policiais. Desde a manhã desta sexta-feira não há registros de novas ocorrências. O medo de novos ataques, como o que matou sete pessoas carbonizadas, obrigou as 48 empresas de transporte público que operam na cidade a recolher seus veículos desde a meia-noite desta quinta-feira. O comércio fechou em Taquara, zona oeste, Méier e Tijuca, zona norte, e no centro. Empresas como a Petrobrás e órgãos do governo liberaram os funcionários mais cedo. A polícia reforçou o policiamento em 12 favelas. A onda de violência põe em risco o sucesso das festas de fim de ano no Rio de Janeiro, que espera cerca de 600 mil turistas no próximo final de semana. Transporte A brutalidade do ataque ao ônibus da Itapemirim causou preocupação no setor de transporte rodoviário, mas as empresas acreditam que o combate à violência é dever do governo. Em nota oficial, a Viação Itapemirim afirmou que não pretende intensificar a segurança dos ônibus. A empresa disse que ?este é um caso de polícia?. Orientar os motoristas para redobrar a atenção foi a providência adotada pela Viação Expresso Brasileiro, segundo o gerente da empresa em São Paulo, Sidmar Silveira. ?Orientamos os motoristas para que não parem na Baixada Fluminense, que fiquem atentos a qualquer movimento suspeito e evitem aglomerações. Em caso de emergência devem procurar os postos da Polícia Rodoviária.? O grupo Auto Viação 1001, por meio do setor comercial, informou que lamenta pelo incidente e pelas vítimas, mas não há nenhuma necessidade de medidas extras de segurança, pois a empresa acredita nas ações do governo. As Viações São Geraldo e Gontijo, a exemplo da 1001, disseram que não devem alterar a rotinas de viagens. Madrugada Apesar de não haver registros de ataques desde esta manhã, novas ocorrências aconteceram na capital fluminense, nos subúrbios da cidade e em Niterói durante a madrugada. Por volta das 2 horas desta sexta-feira, dois motociclistas dispararam contra um posto policial na Avenida Kennedy, em Duque de Caxias e, em seguida, atiraram também contra o Centro Cultural Oscar Niemeyer, no centro. Houve perseguição e uma motocicleta foi abandonada com a chave no contato, na entrada da favela Mangueirinha. Posteriormente, o proprietário, um motorista de ônibus, de 23 anos, compareceu à delegacia da cidade, afirmando que havia emprestado a moto a um rapaz conhecido como Michelzinho, que seria traficante. A polícia não descarta a hipótese de que o próprio dono da moto possa estar envolvido nos ataques. No entanto, ele não foi indiciado. Antes, um grupo de cerca de 20 marginais, da Favela Furquim Mendes, em Duque de Caxias, na região central do Rio, invadiu a Linha Vermelha com a intenção de roubar veículos. O Agrupamento Tático Móvel da Polícia Militar foi acionado e durante 20 minutos houve tiroteio entre bandidos e a PM. Ninguém ficou ferido. Principais ataques A seguir, os principais ataques registrados no Rio nesta quinta-feira: - Dois policiais militares são atacados na Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca, zona oeste. Um PM morre, outro fica ferido e um suspeito é morto - Criminosos disparam contra uma cabine da PM em Botafogo, na zona sul, matam uma vendedora ambulante, que trabalhava próximo aos policiais - Dois ônibus são incendiados na Avenida Brasil. Em um deles, não há feridos. No outro, sete passageiros morrem carbonizados e dois ficam desaparecidos - A Delegacia de Polícia de Campinho, na zona norte, é metralhada. Um homem que registrava queixa no local morre - A Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Grajaú, na zona norte, é metralhada - Um PM que estava parado em um veículo é morto com 12 tiros na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul Matéria alterada às 15h13 para acréscimo de informações

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