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Passageiro misterioso mata assaltante em ônibus

Por Agencia Estado
Atualização:

"Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada." Com estas palavras, o homem de terno azul-marinho, calvo, de cerca de 38 anos, pegou sua maleta 007, saltou do ônibus que faz a linha 1571, Itaim Bibi/ Jaçanã, nesta terça-feira à noite, e saiu correndo pela Avenida Doutor Zuquim. Ele deixou para trás um assaltante morto, um gravemente ferido e já tinha posto para correr outro ladrão. O homem, um passageiro desconhecido que pegou o ônibus por volta das 21h num ponto da Rua Augusta, simplesmente sumiu no bairro Santana. "Se ele não for policial, então era um anjo da guarda, porque salvou minha vida", desabafa o cobrador Eleandro Nilson Moacyr, de 28 anos, que nunca tinha visto o passageiro antes. Era por volta de 21h20 desta terça quando o motorista do ônibus 1571, Sebastião Alves de Siqueira, de 57 anos, parou na altura do número 1.042 da Av. Dr. Zuquim para deixar uma passageira. Pela porta da frente, três rapazes pediram para entrar. Quando a porta foi aberta, o cobrador ouviu do rapaz loiro e bem vestido que era um assalto. "Ele disse: dá tudo o que você tem. Passa a carteira também", disse Moacyr. Com medo, o cobrador fez tudo o que o rapaz loiro, o estudante de classe média Vitor Fanucchi, de 19 anos, pediu, enquanto os outros dois entravam no ônibus. O homem de terno azul, que até aquele momento brincava com um celular, começou a prestar a atenção nos assaltantes. Ele estava sentado a apenas dois bancos de distância do cobrador e ouviu quando um dos assaltantes, pardo, de cabelos pretos, cerca de 22 anos, 1,70m, forte, que trajava moleton cinza com capuz e portava um revólver, disse para os companheiros: "Mata o cobrador e limpa os passageiros". Imediatamente, o homem misterioso abriu o terno, sacou uma pistola e disparou duas vezes contra Fanucchi e acertou mais um tiro no cabeleireiro Robson de Araújo Dias, de 22 anos, que também participava do assalto e estava armado com uma garrucha calibre 32. Os dois assaltantes tentaram fugir pela porta traseira do ônibus. Fanucchi caiu na calçada, com um tiro no peito e outro num dos braços, e Dias ferido no abdome. Antes de morrer, o rapaz loiro devolveu a carteira ao cobrador. O homem misterioso ainda desceu do ônibus e atirou em direção ao terceiro assaltante, o de moleton cinza, que fugiu com R$ 216,15. Voltou ao ônibus, pegou sua maleta e foi embora. Dias foi levado para o Pronto-Socorro Santana e depois encaminhado ao Hospital do Mandaqui. Fanucchi morava numa área nobre do Jardim São Paulo, era filho de uma comerciária e cursava o ensino médio. O pai, Júlio Fanucchi Neto, não entende o que aconteceu. Ele diz que não há motivos para o filho ter participado de um assalto. "Minha família não é excepcional, mas ele tinha casa, tudo", diz ele, que quer um laudo esclarecendo as condições da morte. "Ele foi assassinado", dizia a mãe do rapaz, Maria Paula. O cobrador diz que Fanucchi estava com "o olho estalado e vermelho". Moacyr fala ainda que o policial militar que atendeu a ocorrência encontrou maconha na pochete do adolescente. Assaltos como esse são comuns na Viação Nações Unidas, empresa que explora a linha 1571, conforme afirma um funcionário que não quis se identificar. São quase dez assaltos por semana nas 32 linhas de ônibus. O funcionário diz que as mais perigosas são as linhas de percurso longo, entre elas Jaçanã/ USP (701U), Horto/ Butantã (177H), Pedra Branca/ Butantã (177P), Vila Albertina-Santana (1786) e Itaim Bibi/ Jaçanã (1571). Os assaltos podem ser comuns, mas não é todo dia que aparece um ?anjo da guarda? de terno azul-marinho.

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