Pátio do Colégio, memória

PUBLICIDADE

Por José de Souza Martins
Atualização:

Um lugar que, de algum modo, condensa a memória histórica de São Paulo é o Pátio do Colégio. Diferentes episódios da nossa história ali se deram, desde a construção do rancho jesuítico em que teve início a catequese dos índios. Lá ficou a aura das coisas acontecidas, das figuras humanas que as protagonizaram. Anchieta e Nóbrega ensinaram e repousaram ali e ali escreveram alguns dos textos mais antigos da história paulista. O lugar foi escolhido porque muito próximo da aldeia do cacique Tibiriçá (onde é o Largo de São Bento). Também porque lugar à beira de um precipício que de algum modo os isolasse e protegesse. Iniciava-se um período de intermitentes conflitos com os índios, que só terminará em 1602. Tanto, que o governador-geral Mem de Sá, determinou, em 1560, o despejo dos moradores de Santo André da Borda do Campo para o redor do Colégio, para onde transferiu o pelourinho e o predicamento de vila com o nome de São Paulo do Campo. Ia-se para o mar passando pela Mooca e pelo Tijucuçu, atual São Caetano, descendo pela rua da Tabatinguera que, já com esse nome, dizia a Câmara em dezembro de 1589, era "caminho real muito antigo". Meio de evitar o sul da vila, lugar de ataques dos índios. Muita coisa aconteceu naquele Pátio. Quando foi restaurada a Capitania de São Paulo, em 1765, os jesuítas já expulsos do reino, em 1759, o governador e capitão-general passou a usar o colégio como palácio do governo. Em 1915, a residência do governador passou para o Palácio dos Campos Elísios, mas o governo continuou no Pátio. Ali no Pátio existiu a Casa da Ópera, onde, na noite de 7 de setembro de 1822, o padre Ildefonso Xavier Ferreira saudou o rei do Brasil, diante da tribuna em que D. Pedro se encontrava, gritando "Independência ou morte!", frase depois colocada na boca do jovem príncipe como se tivesse sido dita no Ipiranga, à tarde. No mesmo teatro, Paulo Eiró apresentou sua peça ''Sangue Limpo'', em 1861, texto abolicionista em que lamenta a incompleta Independência do Brasil por não ter incluído a liberdade dos escravos. Num dos edifícios do mesmo Pátio, ainda existente, abrigou-se o governador Carlos de Campos por algumas horas, no dia 9 de julho de 1924, quando fugia do bombardeio dos Campos Elísios pelos militares revoltados, na Revolução iniciada no dia 5. Mas, bombas que ali caíram, ferindo e matando, não lhe deixaram senão a alternativa de se retirar para Guaiaúna, entre Penha e Vila Matilde, para aguardar, num carro da Central do Brasil, o fim da Revolução, o que só se deu em 28 de julho. No centro do Pátio, um monumento ali colocado em 1925, de Amadeu Zani, professor no Liceu de Artes e Ofícios, celebra com majestade a humilde e ao mesmo tempo atrevida fundação de São Paulo e seu legado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.