Patriota mostra, em análise, que não mudará linha atual

Avaliação da cena mundial, escrita pelo futuro chanceler, reafirma prioridades como apoio à Unasul e manutenção do protagonismo

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Por Gabriel Manzano
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Uma análise sobre o papel do Brasil na diplomacia mundial, preparada recentemente pelo futuro chanceler, Antonio Patriota, indica que, no governo Dilma Rousseff, o continuísmo da era Lula está mais que garantido. No texto, Patriota desenha um quadro positivo das relações com os vizinhos, elogia a "diversificação de parcerias" e defende um maior protagonismo do País na cena mundial. O Brasil, diz ele, tem características "que o habilitam a participar, com especial autoridade, nos processos de transformações internacionais em curso".As avaliações estão em um breve estudo - seis a sete páginas - que o secretário-geral do Itamaraty preparou em meados do ano para a revista Política Externa. Na trilha do ministro Celso Amorim, ele vê o mundo envolto em "profundas e aceleradas transformações", nas quais Brasil, Índia e África do Sul emergem como "parceiros incontornáveis" nos processos de decisão. Cauteloso, Patriota cria uma linha divisória: "Podemos não saber, com precisão, o que está por vir, mas sabemos identificar os elementos do passado que já não valem". E entre esses elementos estão "os mecanismos de governança tradicionais" - leia-se, o poder de cinco nações decidirem tudo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Multipolar. A análise de Patriota começa pela macropolítica: ele entende que a unipolaridade, com predomínio da superpotência americana, vem dando lugar a uma multipolaridade gerida por "estruturas de governança de caráter multilateral". Nesse novo quadro, "a supremacia americana é vista como um processo declínio relativo". Ele relata fracassos dos EUA no Iraque e no Afeganistão e diz que o país "não se tem revelado capaz, por si só, de produzir e moldar resultados em escala global, de acordo com os seus interesses". E o Brasil? O futuro ministro vê a diplomacia do Itamaraty apoiada em três eixos. Primeiro, o "reforço de relações tradicionais" - a camaradagem com os vizinhos sul-americanos, com os EUA, Europa e Japão. Em segundo, "a diversificação de parcerias, especialmente no sentido Sul-Sul", decisão que ajudou muito o Brasil a proteger-se da crise financeira de 2008. E terceiro, um "plano sistêmico" destinado a "aperfeiçoar o multilateralismo e os processos de governança global". Para ele, está correta a prioridade que se deu ao Mercosul e, agora, à União de Nações Sul-americanas, Unasul. Ele menciona um comercio regional que saltou de US$ 9 bilhões em 2003 para US$ 36 bilhões em 2008. O governo fez bem em abrir 35 novas embaixadas, "em grande parte na África, na Ásia e no mundo árabe". Diz que a opção pela edstratégia sul-Sul não impediu que o comércio com EUA e Europa crescesse muito. E sustenta que o Brasil desenvolveu "uma política externa que evita falsas opções entre Norte e o Sul, entre o econômico e o político _ e sem descuidar da modernização de suas Forças Armadas".

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