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PCC ameaça atacar alvos fora da prisão

Por Agencia Estado
Atualização:

O Primeiro Comando da Capital (PCC) está preparado para a guerra e ameaça atacar alvos fora das prisões caso o governo não aceite negociar suas reivindicações. "Não queremos confronto, não somos terroristas, mas se ele (o governo) tem 38 (revólver), nós temos pistolas. Se tem pistola, nós temos fuzil. Se tem fuzil, nós temos lança-granada", afirma "Flamenguista", de 27 anos, porta-voz da facção criminosa. Ladrão e traficante de drogas, ele está em liberdade e foi designado pela cúpula da organização para dar entrevista. "Estamos nos manifestando de modo pacífico nas prisões. Se não houver jeito, vamos nos manifestar aqui fora." No dia 18, o PCC promoveu o maior motim da história do País. Houve rebelião em 29 unidades prisionais em 22 cidades do Estado. Dez mil pessoas ficaram como reféns. Cerca de 25% dos 94 mil presos do Estado participaram do levante, que deixou 20 mortos. "Até cadeia que não era nossa parou em solidariedade", afirma o traficante. "Flamenguista" conta quais serão os alvos do PCC. "Quem estiver falando mentira contra a gente, quem estiver massacrando nossos irmãos no sistema deve saber que é um alvo e poderá perder a cabeça." Líder da facção, ele se faz acompanhar de um grupo de criminosos, com fuzis, submetralhadoras, pistolas e revólveres. "Falam que a gente é psicopata, mas o que é quem tranca três presos em uma viatura e os deixa morrer agoniados, debaixo do sol, como fizeram na Penitenciária de Andradina? Ninguém está pedindo liberdade, errou tem de pagar. Mas a gente quer pagar com dignidade e respeito." No dia 19, um após o motim, dois presos morreram asfixiados e um foi morto quando eram transferidos de Andradina. Ficaram oito horas trancados num carro da polícia. Fábrica "Flamenguista" relata como o PCC - que ele chama de "o lado certo da vida errada" - organiza-se fora das prisões. Ele revela que o grupo mantém uma pequena fábrica de submetralhadoras e mostra uma delas, semelhante à Uru, fabricada no Brasil nos anos 80. "Essa foi feita num torno por um mano nosso. Tem umas 30 iguais aqui na região." Seu celular toca e ele atende, conversa com um "irmão" e desliga dizendo que mantém contato por meio do aparelho com presos de 40 penitenciárias, incluindo Bangu 1, no Rio. Em seguida, retoma o discurso e diz que o PCC distribuiu 15 mil cestas básicas para comunidades pobres e parentes dos "irmãos". A facção paga ainda o transporte de famílias de presos que estão no interior do Estado e conta que compra casas baratas ou barracos para parentes de detentos, além de pagar aluguéis, remédios, médicos e a escola de crianças. Nascido no Rio de Janeiro, "Flamenguista" já cumpriu pena em seu Estado e afirma não existir no País grupo mais organizado que o PCC. "Nem o CV (Comando Vermelho)." O traficante e ladrão nega as acusações de que o grupo achaque outros presos e diz que a facção é contra "extorsões, roubos, estupros, opressão e covardia". Quando perguntado sobre o tráfico de drogas nas prisões, ele diz que o problema já existia antes da facção nascer. "Toda cadeia tem droga, todo mundo trafica e ninguém sai de lá para apanhar droga aqui fora", afirma. Reivindicações Após contatar a liderança do PCC na Penitenciária do Estado, ele diz que o grupo está disposto a não exigir mais a desativação do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP), presídio de segurança máxima em Taubaté, mas pede a substituição de seu diretor, José Ismael Pedrosa. É no CRP que está Idemir Carlos Ambrósio, o "Sombra", líder do PCC. Um dos comparsas de "Flamenguista", que se identificou como "Palmeirense", passou dois anos no CRP. "Lá era tranca dura (ficar fechado na cela muito tempo). A gente só tinha dez minutos de sol por dia e levava canada de ferro." Além disso, o grupo pede que o Estado cumpra a lei, estudando os casos de concessão do regime semi-aberto, exige o fim dos maus-tratos e reivindica o respeito ao direito do preso de cumprir a pena na cidade próxima de onde mora sua família. "Que sistema é esse que pune duas vezes o preso, afastando ele da família? Não adianta transferir 30, 40 ou 50 para o CRP, que sempre haverá alguém para liderar lá dentro e na rua. Queremos paz no sistema, que aqui fora é normal, aqui é tudo ladrão."

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