PCC pretendia criar ONG para defender interesses de presos

Um dos objetivos da facção criminosa era obter apoio da Comissão Internacional dos Direitos Humanos e das igrejas católica e evangélicas

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Primeiro Comando da Capital (PCC) estava criando uma ONG para dar suporte às suas atividades e ser usada de fachada para tentar esconder a facção. A ONG se chamaria Perdão ao Cidadão Condenado (as mesmas iniciais do PCC) e seria usada, entre outras coisas, para coletar dinheiro para financiar as atividades de "luta" do PCC. O contato entre a ONG e o PCC seria feito por um advogado contratado pela ONG, mas comando ficaria a cargo dos membros do PCC. O estatuto da ONG foi apreendido numa blitz na Penitenciária de Junqueirópolis, no oeste do Estado de São Paulo, com o detento Cláudio Rolim de Carvalho, o Polaco, porta-voz do PCC nas cadeias do interior até ser levado na última quinta-feira para o Regime de Detenção Diferenciado (RDD) no centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes. Os documentos apreendidos foram repassados ao Ministério Público e à Polícia Civil, que agora investigam a possibilidade de a ONG estar ligada à outra ONG, a Nova Ordem, dirigida Ivan Raymondi Barbosa, ex-policial civil que esteve preso entre 2002 e 2005. "Temos informações de que a Nova Ordem, assim como essa ONG que estava sendo montada, serviriam de braço do PCC", disse um representante do Ministério Público. Mensalidades O estatuto, ao qual o Estado teve acesso, relata os quatro principais objetivos da ONG e as 12 premissas de seu funcionamento. No estatuto, o Primeiro Comando da Capital é tratado como "1º". O objetivo, de acordo com o estatuto, seria prestar atendimento aos presos, combater as irregularidades e as injustiças da Lei das Execuções Penais e agir inicialmente em todas as unidades paulistas e, depois, em unidades prisionais de outros Estados onde houver presos do PCC. A ONG pretendia obter apoio da Comissão Internacional dos Direitos Humanos e igrejas católicas e evangélicas. Para se sustentar, pretendia recolher mensalidades dos associados presos e em liberdade. Mas a metade dos recursos seria destinada ao Primeiro Comando da Capital como forma de financiar "projetos a serem discutidos (luta)". A outra metade seria para manter os "projetos sociais". A intenção era criar departamento jurídico, para patrocinar a assistência aos detentos, e setor social, que ajudaria no amparo aos familiares dos presos. O setor social ainda serviria para ajudar a apagar a imagem de "facção criminosa" dada ao PCC. Advogado A assistência jurídica seria bancada por meio de advogados contratados junto a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Um detalhe: a ONG já previa processo contra ela mesmo, "que será inevitável quando juntarem de onde ela (ONG) vem", diz um dos artigos do estatuto. "Teremos também um advogado a ser nomeado por nós para acompanhar todo o processo na formação (da ONG) e ser o contato com o 1º", diz um dos itens do estatuto. Outro afirma que os departamentos administrativos, comercial e financeiro, seriam comandados pela ONG "sempre em fusão com o 1º e a voz por ele indicada". Ou seja, o PCC, ou o advogado indicado por ele, comandaria a administração da ONG e os recursos por ela arrecadados. Ainda de acordo com o estatuto, a ONG teria como primeiro objetivo criar "o lado social no Brasil do 1º (PCC) para não sermos falados como facção criminosa..." O MP e a polícia investigam agora se novos detalhes foram acrescidos na formação da ONG, se ela se transformou na Nova Ordem ou está ligada a esta.

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