PCC queria explodir bombas no metrô e matar jornalistas

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Por Agencia Estado
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O Primeiro Comando da Capital (PCC) tinha planos de matar jornalistas, a filha do governador Geraldo Alckmin, criar o PCC Jovem, explodir bombas em estações do metrô e reunir um grupo de menores viciados em drogas para invadir embaixadas. O objetivo dos atentados seria chamar atenção e "fortalecer cada vez mais" a organização criminosa que domina os presídios em todo o Estado. As informações estão num depoimento, gravado pelo Ministério Público, de um preso que pertenceu ao comando do PCC e está auxiliando nas investigações para tentar dissolver o grupo de criminosos que manda matar, realiza atentados, financia fugas e vende drogas nas prisões. "Algumas das coisas que ele contou conseguimos comprovar na escuta telefônica feita pela polícia durante vários meses. Outras, como os assassinatos de pessoas da imprensa e da filha do governador, parecem fantasiosas e indicam que ele está querendo se impor diante da massa carcerária para ser o único chefe do PCC", disseram os promotores Márcio Christino e Roberto Porto, do Grupo de Atuação Contra o Crime Organizado (Gaeco). Os dois participam das investigações contra a cúpula do PCC há muito tempo. Christino escreveu um livro sobre a organização criminosa. O nome do preso ouvido pelos promotores está sendo mantido em segredo. O local onde está cumprindo pena também. "Se ele se expuser e souberem onde está acabam por matá-lo", disse Christino. O preso que contou aos promotores os planos do PCC disse na gravação que foi contrário às ações que os chefes pretendiam realizar em São Paulo e outros Estados e por isso foi jurado de morte. "Ele tem necessidade de valorizar a posição e ganhar cacife. Quer tomar o lugar de Cesinha", acredita Christino. O preso explicou que a organização tem em todos os presídios, na chefia dos pavilhões, um detento chamado de "piloto" que conduz e determina aos demais presos o que fazer. "Ele manda e o preso faz. Sem o piloto autorizar, o preso não pode se mexer em presídio dominado pelo PCC", disse o detento. Na gravação, o detento afirma que os fundadores do PCC foram Mizael Aparecido da Silva, Cesar Augusto Roriz, o Cesinha, e José Márcio Felício, o Geleião. O quartel-general da organização ficou por muito tempo "baseado" em Marília e quem comandava era Marcos Aurélio de Souza, o Marcos Psicopata. "Ele mandava matar por telefone. Teve preso da Bahia que foi morto a mando do Psicopata", contou o preso. "O Mizael foi morto porque pretendia defender a proposta de mudança do PCC e não concordava com a ação terrorista que eles propunham aplicar no sistema", disse o detento. "Psicopata, Geleião e Cesinha queriam acabar com a paz nos presídios e implantar o terrorismo." Ele contou que os chefes do PCC mandam matar pelo telefone e, para criar pânico, queriam recrutar menores da Febem criar o PCC Jovem, dar drogas e celulares aos garotos e "determinar missões pois, por serem menores de idade, não daria em nada." Segundo o detento, o advogado Anselmo Neves Maia (que está preso e é acusado de participar do PCC) teria a missão de defender os menores. A ordem era matar três jornalistas, dois de São Paulo e um do Rio. Os encarregados da missão deveriam também matar a filha do governador que trabalharia numa "butique de roupas". Os menores deveriam levar bombas para as estações do metrô para explodir e chamar a atenção sobre o PCC. "O menino deveria explodir com a bomba. Seria um nóia (viciado em drogas) e com a morte dele ninguém perderia", disse. Do plano revelado pelo detento na gravação em poder do Ministério Público consta também que o PCC deveria executar cinco funcionários da Penitenciária de Avaré, para mostrar força e invadir uma embaixada em Brasília. Os menores drogados deveriam ser levados pela organização criminosa de São Paulo para o Distrito Federal. "Eu falei para o doutor Anselmo, isso eu não faço." Uma divisão no comando da organização criminosa deu início a uma série de assassinatos na prisão com a eliminação de Mizael, um dos fundadores do PCC, e de seus seguidores diretos Jonas Mateus, Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, e Alcides Sérgio Dellassari, o Blindado. As mortes ocorreram enquanto os principais chefes, Marcos William Herbas Camacho (Marcola), o Cesinha, e o Geleião, estavam em presídios do Rio e Paraná. Por telefone teriam determinado as execuções. O encarregado de fazer cumprir as ordens teria sido Marcos Psicopata, apontado por outros presos como de "grande poder de decisão" no PCC. Nas 470 horas de gravações dos criminosos em poder da polícia, alguns fatos revelados pelo preso aos promotores poderão ser comprovados, revelaram Christino e Porto. O PCC obriga os ladrões em liberdade a entregar parte do que roubam. Força também as famílias dos presos que têm dinheiro a fazer "doações". O forte do dinheiro que "gira", segundo o que foi constatado nas gravações da polícia, é com o tráfico de drogas dentro dos próprios presídios. Um dos casos que "caiu" na escuta telefônica da polícia sobre "doação" forçada foi a do assaltante conhecido por Nenê Coqueirão. Num dos contatos por telefone, um dos presos pergunta ao ladrão se ele tinha "esquecido" de colaborar com os "irmãos". Foi orientado a procurar uma das pessoas que fazem a arrecadação e colaborar. Nenê Coqueirão, poucos dias depois do contato telefônico de um dos líderes, doou R$ 10 mil. Em seu depoimento ao delegado Alberto Matheus Garcia, da Delegacia de Roubos a Bancos, Cesinha confessou ter mandado matar Dionísio Severo, que fugiu da Penitenciária de Guarulhos, resgatado por um helicóptero. "Morreu porque fez pouco do PCC pela televisão", afirmou Cesinha. Ele contou ter recrutado dois "Bin Laden"(como são chamados os presidiários escalados pelo PCC para matar nas prisões) que assassinaram Severo no Centro de Detenção Provisória do Belém, onde dera entrada havia dois dias depois de ser preso na Praia do Francês, em Maceió. Severo fazia parte do Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC) que toma conta de parte da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos. A outra parte do presídio está nas mãos do PCC. Cesinha também confessou à polícia ter mandado colocar a bomba num carro para explodir no Fórum da Barra Funda. Seria uma represália à morte de 12 integrantes do PCC, em Sorocaba, num tiroteio com a Polícia Militar. Christino disse que Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, um dos chefes do PCC, não será indiciado no inquérito e denunciado porque nada ficou comprovado contra ele. "Todos estranham porque ele ficou fora da investigação e não está no presídio de Presidente Bernardes. Mas nas 470 horas de gravação em momento algum ele é citado. Isso não quer dizer que vamos parar de investigá-lo", explicou o promotor. Marcola está recolhido na Penitenciária de Araraquara, para onde foi mandado depois de ter sido devolvido pelo sistema carcerário de Brasília. Christino e Porto pretendem apresentar a denúncia contra os chefes do PCC e seus seguidores diretos, por formação de quadrilha, extorsão, atentados e assassinatos dentro de duas semanas. O inquérito preparado pela Delegacia de Roubos a Bancos está em fase de conclusão. O delegado Ruy Ferraz Fontes, responsável pelo trabalho de investigação, deverá terminar o relatório final na próxima semana. O inquérito deverá ser mandado para o Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo) e depois seguir para o Ministério Público. "Já temos grande parte do esboço da denúncia pronto porque estamos acompanhando há muito tempo toda a apuração", declarou Porto. Cesinha, Geleião e Marcos Psicopata estão no presídio de segurança máxima em Presidente Bernardes. Quando ouvidos no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), na semana passada, conversaram por várias horas com os dois promotores. "Eles mostraram muita inteligência e não pediram nada a não ser um tratamento digno na prisão. Acreditavam que seriam espancados pelos agentes penitenciários", disse Christino. Os três sabem que serão isolados dos demais detentos e pediram para a direção do presídio entregar leite em pó e a comida levada pela família no fim de semana.

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