Pedido de socorro de Cabral está relacionado à Copa e eleições, dizem especialistas

Vinda de tropas federais para reforçar o efetivo da polícia passaria a mensagem de que não há riscos durante o Mundial e que as UPPs ainda estão sob o controle do Estado

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Estudiosos de segurança pública ouvidos nesta sexta-feira, 21, pelo Estado acreditam que o pedido de socorro de Sérgio Cabral está relacionado à Copa do Mundo, daqui a três meses, e às eleições de outubro, nas quais tentará eleger seu vice, Luiz Fernando Pezão. A vinda de tropas federais para reforçar o efetivo da polícia passaria a mensagem de que não há riscos durante o Mundial e também de que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ainda estão sob o controle do Estado. Trata-se do principal programa de Cabral na área de segurança e pressupõe a retirada de circulação de traficantes armados nas favelas e a aproximação da PM com a população mais pobre.

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O sociólogo Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, não vê possibilidade de o auxílio resultar em benefício em longo prazo. "É uma resposta para tentar aliviar a sensação de descontrole, que segue uma lógica eleitoral e manda um sinal de que a Copa não terá o caminho alterado. Cabral divide o custo político com o governo federal, que se mostra disposto a atendê-lo."

Cano vê a medida como um retrocesso, que remete ao período pré-UPP, de operações policiais rotineiras para combate ao tráfico, que invariavelmente terminavam com muitos feridos. "Existe um acúmulo de problemas: falta legitimidade interna em relação aos próprios policiais das UPPs, uma certa falta de rumos e uma incompatibilidade com a política de segurança do Estado como um todo." A crise de legitimidade, na análise da socióloga Julita Lemgruber, parte de mais um episódio em que fica clara a incapacidade de o Estado lidar sozinho com os desafios da segurança pública.

Para o sociólogo Daniel Misse, a falta de contingente policial nas UPPs não é o centro da questão. "Esse pedido é muito mais simbólico do que prático. As soluções passam por um reforço de equipamentos públicos nas comunidades, a escuta da população local por agentes sociais, e não só por policiais, e também a desmilitarização da polícia e a liberação das drogas."

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