"Pedrão" confessa oito seqüestros no Estado

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Por Agencia Estado
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Um dia após negar envolvimento em seqüestros e liderança de quadrilha, o assaltante Pedro Ciechanovicz, de 48 anos, entrou no Departamento de Narcóticos (Denarc) disposto a confessar seus crimes. Detalhou, em depoimento formal, os seqüestros de oito pessoas importantes no Estado de São Paulo. Falou que não acumulou riquezas. Disse que o lucro de seus crimes foi gasto em diversão com mulheres e aquisição de carros e dos quatro imóveis que tem. Aprendizado Ciechanovicz chegou ao Denarc às 11h. Começou a ser interrogado pelo delegado Carlos Roberto Alves de Andrade, do Setor de Operações Especiais do Departamento de Narcóticos, às 12h. Iniciou o depoimento relatando que aprendeu a seqüestrar e a esconder as vítimas com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar, no período em que ficou preso na Penitenciária do Estado, no Complexo do Carandiru. Ele citou os nomes do argentino Humberto Paz, do canadense David Spencer e do cearense Raimundo Costa Freire como seus professores. Disse que eles o ensinaram a trabahar em células - tática de grupos terroristas -, o que dificulta a descoberta do chefe e garante o sucesso da operação. Em entrevista ao Jornal da Tarde, publicada nesta quarta-feira, Paz e Freire negaram a acusação. "Não falávamos nada porque temíamos que os presos fossem agentes infiltrados", disse Paz. Um só cativeiro e gincana Ciechanovicz tinha tanta certeza de que não era investigado pela polícia que todas as suas vítimas foram levadas para um único cativeiro. Uma casa localizada na Alameda 2 esquina com Alameda 4, no bairro Vinhedo 3, na zona rural de São Roque. Lá dentro, em uma barraca de lona azul ou preta confinava as vítimas. Para receber os resgates, fazia "gincana" para despistar a polícia. Mas optava sempre pela mesma forma de pagamento. De uma ponte, a fonte pagadora deveria jogar o malote com o dinheiro para um motoqueiro (que a polícia suspeita ser Altair Rocha da Silva, o braço-direito do acusado), que aguardava na estrada embaixo. Pelo menos três pagamentos foram feitos no mesmo lugar. Na ponte das ruas Teodoro Sampaio com Mateus Grow, em Pinheiros, zona oeste da capital. Aronson O empresário Girz Aronson, 85 anos, foi a primeira vítima notável, em 1998. Esclareceu que o ferimento no nariz do empresário ocorreu na ação do seqüestro. Aronson caiu no chão no momento em que foi dominado e ralou o rosto. Na fuga, furou um bloqueio da Polícia Militar. Foi perseguido, mas levou a melhor. Levou o empresário para um cativeiro em São Roque. Lá, para deixar a vítima sem noção de tempo e espaço, confinou-a a uma barraca de camping instalada em um dos quartos. Devido ao calor, Aronson começou a passar mal e a sofrer falta de ar. Foram 17 dias até o pagamento do resgate. Disse que recebeu R$ 300 mil, mas a polícia à época divulgou R$ 117 mil. Paula Cristina No ano seguinte, em 1999, Ciechanovicz planejou o seqüestro da estudante Paula Cristina de Antônio, filha do dono da Paulimar, uma concessionária de veículos de Santo André. Disse que a escolheu porque ela era vizinha de seu comparsa Altair Rocha da Silva, a quem chama de Magrelo. "Levantamento fácil". Eles renderam a vítima, numa segunda tentativa, em frente a uma universidade de São Bernardo do Campo. Ela foi levada para o mesmo cativeiro de Aronson, onde ficou por 28 dias. Só que, em vez de uma barraca azul, ela ficou presa numa barraca de lona preta. A quadrilha pediu US$ 1 milhão, mas recebeu R$ 100 mil. Zarzur O empresário Abrahão Zarzur chegava à sua empresa, a Tecelagem Zarzur, às 7h30, quando foi rendido na porta de seu carro, em fevereiro de 2000. Ciechanovicz disse que atuou junto com um comparsa de nome Cabral, um fugitivo da Penitenciária de Santos, que fez todo o levantamento da rotina do empresário. Somente neste caso a vítima foi colocada no porta-malas do carro, porque o acusado temia ser descoberto. Foi direto para o cativeiro, onde a vítima passou dois meses. Todas as negociações que resultaram no pagamento de R$ 100 mil foram feitas com o irmão do empresário, Alexandre Zarzur. Tonin A quadrilha não descansava. Menos de dois meses após a libertação de Zarzur, os seqüestradores investiram contra o estudante Eduardo Tonin, filho do ex-prefeito de Indaiatuba e deputado federal José Carlos Tonin. O rapaz foi rendido às 7h30, quando saía de casa para a escola. Exigiram R$ 600 mil para soltar o menino com vida. Um mês depois o libertaram em troca de R$ 270 mil. Mãe e filha No mesmo ano, em novembro de 2000, a quadrilha rendeu mãe e filha em Presidente Prudente, interior de São Paulo. Segundo Ciechanovicz, foi um desafeto da família que levantou a rotina. Elas foram pegas numa Cherokee quando seguiam para a escola. Para forçar a família a pagar o resgate em menor tempo, o carcereiro teve a idéia de fotografar um balde com sangue. A foto foi enviada para a família com o seguinte recado: elas estão vomitando isso. No dia seguinte o resgate - US$ 100 mil - foi pago. Lanaro O estudante de engenharia José Luiz Lanaro, 24 anos, foi dominado por quatro homens armados na garagem de sua casa, no dia 26 de junho de 2001. Ciechanovicz negou participação neste caso, mas confirmou que deu carona para os seqüestradores Altair e Delei, Wanderlei José da Silva, que tinham pressa em fugir da cidade. Eles acabaram matando a vítima durante a troca de veículos. José Luis tomou a arma da mãos de Pelezinho, um integrante do bando, e atirou em suas pernas. Os delegados têm provas do envolvimento de Ciechanovicz no caso porque uma peruca, um de seus métodos de disfarce, foi apreendida no local onde o corpo foi encontrado. "Não tenho duvidas da participação dele", disse o delegado Everardo Tanganelli, presidente do inquérito. Benito Júnior Como o seqüestro de Lanaro não deu certo, quatro meses depois a quadrilha dominou o empresário Roberto Benito Júnior, em Salto, que teve a rotina levantada por um ex-funcionário. Como nos outros casos, o empresário foi levado para São Roque, onde teve de posar para fotografias com explosivo sobre o peito e várias armas, alugadas por Altair, apontadas para sua cabeça. Exigiram US$ 2 milhões e conseguiram US$ 910 mil, após 119 dias de negociação. Bertim O empresário João Bertim, 82 anos, vítima do mais longo seqüestro do Estado, despertou a atenção da quadrilha quando Ciechanovicz passou pela cidade e percebeu que o maior exportador de carne do País era tratado como o dono da cidade. Estiveram na cidade no dia da inauguração de uma escola, em que Bertim foi escolhido para ser o patrono. De olho nas cifras que o seqüestro poderia lhe render, Ciechanovicz deixou um comparsa, identificado apenas como Vendel, hospedado na cidade para levantar rotina, hábitos e bens da futura vítima. Foram 15 dias de estudo até a ação do crime. Bertim foi rendido no curral da fazenda, na presença de cinco empregados. Com exceção de Lanaro, Ciechanovicz confessou que participou da captura de todas as vítimas. O único detalhe que ele não forneceu à polícia foi o local do cativeiro. Disse que suspeita ser em Quatá, na região de Presidente Prudente.

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