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Pedreiro descobre que foi trocado na maternidade

Descoberta foi feita após exames de DNA; Érico Ferreira ficou chocado

Por Agencia Estado
Atualização:

Durante 40 anos, o pedreiro Érico Ferreira, de Sorocaba, viveu com a família errada. Ele descobriu, só agora, que foi trocado na maternidade onde nasceu, na cidade de Lins, noroeste do Estado, em 2 de junho de 1966. O fato, revelado por uma tia, levou-o a fazer exames de DNA. O resultado, obtido no final do ano passado, o deixou chocado. "Eu não sou filho daquela que sempre me tratou como mãe", disse nesta sexta-feira, 9, enquanto misturava areia, cal e cimento para fazer massa numa construção da Vila Tulipa, na periferia de Sorocaba. "Meus irmãos também não são meus irmãos e agora sei que o pai, que chorei muito quando morreu, também não era meu pai." Érico conta que o pai, José Paulino Ferreira, também pedreiro, mudou-se de Lins para Sorocaba quando ele tinha dois anos. "Ele morreu quando eu tinha 13 e o meu mundo caiu." A família, pobre, passou a ser sustentada pelo irmão mais velho, Airton. "A vida era tão difícil que a gente pegava restos nas feiras." Érico perdeu também uma irmã, Cledinês, que morreu atropelada. "Era apegado a ela e sofri muito." Ele jamais suspeitara que podia estar sofrendo com uma família que não era a sua. Em alguns momentos, achou estranho o fato de seus quatro irmãos serem mais morenos. "Eles têm o cabelo preto e duro, diferente do meu, que é liso e claro." Também achava graça por ser o único da família com olhos verdes claros. "Pensando bem, às vezes eu sentia um vazio muito grande, como se alguma coisa em casa não encaixasse. Cedo fui morar com uma mulher e tive um filho." O garoto, Paulo Ricardo, tem 16 anos. Érico separou-se da mãe do rapaz e hoje vive com Maria das Graças Ferreira dos Santos, de 57 anos. "Ela também é quase uma mãe para mim", brinca com a mulher. Graça estava com ele, em São Paulo, visitando parentes, quando uma tia, Amália, fez a revelação. É ele quem conta: "A gente estava almoçando e ela ficou olhando no meu rosto. Eu perguntei: o que foi? Aí ela disse: sabe, Érico, que você não é Ferreira? Você foi trocado no hospital." Ele conta que ficou tão aturdido que nem pediu mais explicações. Quando chegou em casa, cobrou a mãe. "Ela disse que não tinha certeza, que tinha me levado para casa como se fosse seu filho, o que só aumentou a minha angústia." Desfazer a troca Conversando com os irmãos, soube que, quando ainda era bebê, seu suposto pai teria ido à sua casa para propor a destroca. "Ele teria oferecido dinheiro, que o meu pai recusou." Sem recursos para fazer o exame do DNA, o pedreiro recorreu à Defensoria Pública de Sorocaba. Foi aberto um processo e em seis meses ele teve o resultado. "Perdi o chão, fiquei desesperado, mas minha família adotiva me apoiou." Decidido a encontrar sua verdadeira família, ele viajou para Lins e esteve no hospital, a Santa Casa. Descobriu que, no mesmo dia em que nasceu, outras cinco mulheres deram à luz. "Por coincidência, uma delas tem o nome parecido com o da mãe que me criou." A mulher se chamava Laura, como a mãe não biológica de Érico - Laura Pires da Conceição. Ele não conseguiu localizá-la, mas achou o filho de outra mulher que deu à luz naquele dia. O rapaz, mais novo que Érico, concordou em fazer o exame para ver se eram irmãos. O resultado ficou pronto, mas ainda não foi enviado à Defensoria de Sorocaba. "Parece que deu negativo, mas eu não vou desistir." Numa pasta, ele guarda certidões de nascimentos, anotações e números. Falta ainda localizar as outras possíveis mães. Uma delas é japonesa e ele praticamente descartou. Outra - ele já soube - foi casada com um suíço e é dona de uma fortuna. "Só falta, depois da vida difícil, quase miserável que tenho levado, descobrir que sou rico", diz, brincando. Depois, sério: "O dinheiro não importa. Eu quero saber quem sou, quem são meus pais, se tenho irmãos. Quero a verdade." Ele está ciente de que, ao descobrir sua origem, pode mexer com a vida de outras pessoas. "Se der certo, encontro também o filho verdadeiro da minha mãe." Na Santa Casa de Lins, funcionários disseram que não estavam sabendo da possível troca de bebês. Segundo um encarregado, os papéis referentes àquele período já foram incinerados. A direção do hospital, procurada pela reportagem, não tinha dado retorno até o final da tarde.

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