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Pequenos obstáculos provocam grandes lentidões em vias de SP

Ônibus fora de corredores e falta de manutenção de semáforos são principais problemas, dizem especialistas

Por Valéria França
Atualização:

Às 11 horas de anteontem, o paulistano enfrentava uma longa fila de carros em um trecho da Avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste, apesar de não ser horário de pico. O motivo: dois faróis queimados e dois veículos quebrados - uma picape e um caminhão de 15 metros. "Eu já tentei consertar, mas o sistema é eletrônico e não tem jeito. Tenho de esperar os técnicos da concessionária", disse o caminhoneiro Juliano Lopes Gualberto, de 28 anos, que ficou mais de duas horas parado na faixa da direita, à espera de socorro. Enquanto especialistas em trânsito discutem soluções que, embora importantes, vão demorar anos para colocar ordem no caos, há medidas pontuais que podem amenizar mesmo o imponderável. Nos casos acima, se os veículos fossem guinchados prontamente e os faróis consertados, o paulistano não amargaria no engarrafamento. O Estado convidou quatro especialistas para analisar duas vias importantes da cidade, as Avenidas Paulista e Marquês de São Vicente, para pontuar empecilhos do fluxo e sugerir soluções. Intensificar a fiscalização, investir em equipamentos e reordenar a circulação dos ônibus foram algumas das medidas apontadas. As avenidas foram escolhidas por serem corredores de tráfego intenso e, ao mesmo tempo, apresentarem características diferentes. A Paulista é uma área de serviços e escritórios, com grande circulação de pedestres - 1,7 milhão de pessoas -, carros e ônibus, que somam 90 mil veículos. Paralela à Marginal do Tietê, a Marquês recebe um fluxo pesado de caminhões e ônibus. É ocupada principalmente por empresas de grande porte, como confecções, editoras e transportadoras. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não faz o registro de circulação de veículos e pedestres da avenida. COLETIVOS VAZIOS Fora o tão anunciado excesso carros, um dos grandes problemas da Avenida Paulista é a ineficiência do sistema de ônibus. São 26 linhas, sem contar os ônibus fretados e intermunicipais, que alinham-se em fila à espera da vez para embarcar e desembarcar seus passageiros. O resultado é um extenso e lento comboio, que chega a tomar quase todos os 2,7 quilômetros de extensão da avenida, mesmo fora dos horários de pico de trânsito. Quem pode pega a Linha Verde do metrô, esvaziando os ônibus, que muitas vezes circulam quase vazios. "A Avenida Paulista só é viável com um corredor de ônibus à esquerda", diz o consultor Carlos Alqueres, engenheiro especialista em transporte. "A cada 30 metros, em média, há uma saída de garagem do lado direito. Cada vez que um carro entra ou sai, o trânsito perde fluxo." Proprietário da Hora H Pesquisa Engenharia & Marketing, o consultor Horácio Augusto Figueira diz que a Prefeitura poderia ter aproveitado a reforma da Paulista para alargar e arborizar o canteiro central, que receberia uma plataforma adequada ao corredor. "O congestionamento de carros é inevitável, mas o de ônibus é imperdoável." Mesmo com a atual estrutura, a avenida teria um trânsito melhor com pequenas alterações. Uma das sugestões apontadas pelos especialistas é a distribuição das linhas em dois ou três pontos diferentes no mesmo quarteirão. Com isso, até três ônibus fariam embarques e desembarques simultâneos. "As calçadas também poderiam ser elevadas, para que ficassem no nível dos ônibus rebaixados", sugere Luís Antônio Seraphim, consultor em trânsito e transporte. "Seriam apenas 3 centímetros a mais para passageiros com problemas de locomoção embarcarem sem problemas." A sugestão, que agrada a todos os especialistas procurados, não seria possível, porque comprometeria a acessibilidade de portadores de necessidades especiais, segundo Angelo Nellio, coordenador de obras da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. "Em dias de chuva, o piso rebaixado ficaria alagado", explica. CAMINHÕES E ÔNIBUS Na Avenida Marquês de São Vicente, apesar do corredor, que garante a fluidez dos coletivos, circulam ônibus também na faixa da direita, e com isso os carros ficam espremidos. "Não é possível ter um sistema que concorra com o troncal", diz Seraphim. Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), esses pontos servem de apoio para os coletivos que percorrem poucos quarteirões da avenida. "O ideal seria criar uma infra-estrutura que promovesse a integração entre o sistema alimentador , que passa pelos bairros, e o corredor. Por exemplo, vans poderiam levar os passageiros para as extremidades dos corredores." Outro problema na região é o excesso de caminhões, provenientes da Marginal do Tietê ou de transportadoras localizadas na própria Marquês de São Vicente. "Um caminhão quebrado poderia ser guinchado, porque existem equipamentos específicos para isso", diz Figueira. A Prefeitura tem déficit de equipamentos desse tipo. "É preciso investir em equipamentos e em pessoal. Faltam radares, guinchos e fiscais do trânsito nas ruas", diz Ailton Brasiliense , diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). "São Paulo teve um recorde de multas em 1989, quando registrou 4,4 milhões de multas. A partir de 1992, permaneceu na média de 3,6 milhões de autuações." Brasiliense também destaca a falta de contratações na CET. "Há 16 anos, havia 4,2 mil funcionários na CET. Esse número quase não mudou, mas a frota aumentou em 40%."

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