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Pescadores voltam a tirar sustento do rio

Em Anhembi, colônia espera conseguir 1.500 kg por dia

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Por Redação
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A aterrissagem desengonçada do tuiuiú espanta o bando de garças que espreita do tronco seco um cardume de piaus. Um biguá se antecipa, mergulha e emerge com um peixe no bico. O cenário é do Pantanal, mas as águas são do Rio Tietê, que cruza Anhembi, cidade de 6 mil habitantes a 235 quilômetros de São Paulo. Lá, onde parte da população tira sustento do rio, moradores esperam com ansiedade a virada do mês. No dia 1º, termina a piracema - período de reprodução dos peixes -, e a pesca, proibida desde novembro, volta a ser liberada para os cerca de 250 pescadores, que esperam nesta temporada conseguir 1.500 quilos de pescado por dia. Anos atrás, fisgar tilápias, curimbatás, piaus, corvinas, traíras, cascudos e até pintados era sonho impossível. Com a poluição do Tietê, os peixes escassearam e pescadores migraram rio abaixo. Há duas décadas, só havia pesca depois que o rio passava pela hidrelétrica de Barra Bonita, quilômetros adiante. Em 1992, teve início o Projeto Tietê. À medida que a qualidade das águas antes da barragem foi melhorando, os pescadores voltaram. Agora, eles vão subindo o rio na direção de São Paulo, acompanhando o recuo da mancha de poluição. De Conchas até a barragem, contam-se dez núcleos de pescadores como o de Anhembi. No total, são cerca de 2 mil famílias sustentadas pelos peixes do Tietê, vendidos principalmente em São Paulo, Piracicaba e Campinas. Já se pesca até em Salto, a 100 km da capital, mas por diversão - ninguém come os peixes, porque há dúvidas sobre se eles são próprios para consumo. "Quando contei que estava pescando no Tietê, meus amigos não acreditaram", conta a pescadora Daniele Nogueira. O problema agora passou a ser o lixo flutuante, que se enrosca nas redes de pesca. Garrafas PET, isopor, madeira e muito plástico se acumulam nas margens e ilhas de aguapés. Há também urubus, atraídos por animais mortos - como uma vaca que boiava perto de Anhembi, quarta-feira. É esse lixo que ainda atrapalha os negócios do comerciante Milton de Quadros Rodrigues. Ele instalou um camping na beira do rio onde recebe turistas de todo o Estado. Muitos, como o aposentado Alacir Amaro, de 84 anos, são antigos pescadores e conhecem o Tietê de longa data. "Aqui já deu jaú, dourado, peixe de 25 quilos ou mais." Ele mora em Piracicaba e lamenta que o rio homônimo, que deságua no Tietê, ainda esteja bastante poluído. "Minha filha até levou uma garrafa com a água para mostrar aos amigos." O motorista Nelson Cardoso, de 66 anos, leva os peixes para casa. "Faço filezinho de tilápia", conta. Animado com a possibilidade de fazer passeios turísticos no rio, Rodrigues está reformando uma chalana - barco chato, com 24 lugares. Mas lamenta a quantidade de lixo. "Num trecho de 150 metros da margem, juntei 300 quilos de sujeira."

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