PF ouve três últimos controladores do acidente da Gol

Controladores que estavam trabalhando no dia do acidente prestam depoimento na PF, que também vai ouvir controladores de Manaus e os pilotos do Legacy

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Polícia Federal tomou na manhã desta quinta-feira, 23, o depoimento dos últimos três controladores de vôo que estavam em serviço no dia do acidente com o avião da Gol, no qual morreram 154 pessoas. Entre os interrogados está o controlador que identificou o erro na altitude do jato Legacy e que teria tentado desesperadamente contato para retirá-lo da rota de colisão. Nos depoimentos prestados até agora por dez controladores, eles garantiram que não têm nenhuma responsabilidade no acidente. Eles atribuem o acidente primeiro a um erro dos pilotos do Legacy, que não seguiram o plano de vôo. Dizem ainda que houve falhas nos equipamentos do Cindacta-1, não só nos rádios de freqüência, como nos próprios radares. ´É comum haver perda de vigilância no radar´, alertam os controladores de vôo. A Aeronáutica nega a existência de pontos cegos no espaço aéreo. O controlador que monitorava o Legacy ao passar por Brasília foi ouvido na quarta-feira. Segundo os advogados, ele viu na tela do radar que o jato estaria a 36 mil pés, quando, na verdade, estava a 37 mil pés. O profissional, então, teria repassado uma informação errada a seu substituto. A partir desta sexta-feira, o delegado Rubens José Maleiner vai analisar os depoimentos de todos os 13 controladores que estavam de plantão em São José dos Campos (SP), de onde partiu o Legacy, e na torre de Brasília. Ele vai analisar também o material das caixas-pretas do Boeing da Gol e do Legacy, os diálogos dos pilotos com as torres, as perícias e outros materiais que estavam em poder da Aeronáutica, e que foram repassados à Polícia Federal, por ordem judicial. Com as análises, a PF espera identificar os responsáveis pelo acidente, que devem ser denunciados à Justiça por crime culposo (sem intenção). O inquérito deverá ser concluído até o dia 15 de dezembro. Os controladores que estavam de plantão na torre de Manaus, de onde partiu o Boeing da Gol e por último os pilotos americanos do Legacy, também serão ouvidos pela PF, mas ainda não há data definida. Controladores culpam radar Os advogados dos controladores de vôo que estavam trabalhando no dia 29 de setembro, data da colisão entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, afirmaram na quarta-feira que seus clientes devem ter sido induzidos a erros por causa de problemas que ocorrem, com freqüência, nos radares do centro de controle aéreo de Brasília (Cindacta-1). Os profissionais disseram que, naquele dia, não só a indicação da altitude do Legacy - referente ao plano de vôo - modificou-se automaticamente como a indicação da esquerda - referente à real atitude da aeronave - foi alterada sem a interferência manual do operador. Segundo os controladores, panes desse tipo são freqüentes. Eles afirmam que todos os problemas ocorridos no dia-a-dia do centro de controle ficam registrados em livros e computadores. Os advogados asseguram que tanto os três controladores de São José dos Campos, de onde o Legacy partiu, quanto os de Brasília descartam qualquer responsabilidade no acidente. O controlador que autorizou a decolagem, por exemplo, declarou à PF que deu todas as instruções de praxe, seguindo linguagem padrão. Os controladores foram unânimes em garantir que há pontos cegos no controle aéreo na região onde o ocorreu o acidente, além falhas de comunicação via rádio. Torre ficou sem contato Os advogados dos controladores de vôo afastados após o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy também alegaram que seus clientes não procuraram outros aviões para fazer uma triangulação na comunicação via rádio e falar com os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino porque não havia outras aeronaves na região no período que antecedeu o acidente. Disseram ainda que, antes do choque, não se preocuparam em chamar o jato na freqüência de emergência pois achavam que ele estava na altitude estipulada no plano de vôo - 36 mil pés, a partir de Brasília. Os advogados informaram ainda que, naquele dia, 29 de setembro, o centro de Brasília (Cindacta-1) ficou sem contato com duas aeronaves - uma da espanhola Iberia e outra da TAM - que faziam trajetos próximos do percorrido pelo Legacy. Na época da tragédia, o governo garantiu que a comunicação do Cindacta-1 com outros aviões no dia do acidente tinha sido normal, com exceção do jato pilotado pelos americanos. Mesmo assim, logo após o choque, um cargueiro da empresa americana Polar Air ajudou o Legacy a pousar na Base Aérea da Serra do Cachimbo. Um porta-voz da empresa disse ao Estado, dias depois do acidente, que, ao ouvir o pedido de socorro do Legacy, a tripulação do cargueiro conseguiu, via rádio, guiar os pilotos americanos até o pouso. O avião também sobrevoava a selva amazônica, mas estava a 32 mil pés.

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