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PF pedirá controle de mCPP à Anvisa

Processo para inclusão da substância no rol de monitoradas pela agência de vigilância está sendo preparado

Por Fabiane Leite e Rubens Santos
Atualização:

A Polícia Federal de Goiás vai pedir à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que inclua o mCPP no rol das drogas sob controle especial do governo na próxima mudança de legislação. A substância tem sido vendida como droga de uso recreativo nos últimos dois anos na Europa e foi encontrada em Goiás pela Polícia Federal na primeira apreensão no Brasil. A agência confirmou ontem que a substância não faz parte da relação e não estaria presente em nenhum medicamento autorizado no País. Segundo a Assessoria de Imprensa, até ontem a Anvisa não tinha sido oficialmente informada sobre a presença do mCPP no Brasil. De acordo com Elisaldo Carlini, especialista do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o mCPP é uma "design drug", algo como droga desenhada em inglês, ou seja, fabricada especialmente por traficantes para enganar as autoridades. Justamente por ser nova, e por não estar entre as substâncias proibidas ou de uso controlado, conseguem facilmente ganhar o mercado e, antes que governos criem regulamentação contra elas, são substituídas por outros produtos. "Essas drogas são sempre uma briga perdida para as vigilâncias sanitárias", afirma o especialista. "É uma maneira que os traficantes utilizam para burlar a lei e a vigilância policial enquanto transitam com a droga", afirma o perito criminal federal Fabiano Afonso de Sousa, que analisou os comprimidos de mCPP apreendidos em Goiás. De acordo com Carlini, uma saída seria o Brasil rapidamente determinar o controle da substância. "Os países têm autonomia para isso", afirma o especialista. No entanto, hoje o caminho oficial que a maioria das nações escolhe para obter o controle sobre uma droga ou seu banimento é fazer um pedido oficial para que a Organização das Nações Unidas (ONU) se manifeste. Mas, a partir daí, há um longo processo pela frente até a última análise da Assembléia Geral das Nações Unidas, que ocorre apenas uma vez por ano. A opção pelo caminho mais difícil, explica, ocorre em razão de interesses econômicos. Restringir o acesso a qualquer tipo de droga pode afetar a indústria química e farmacêutica. Segundo análise feita por Carlini a partir de artigos pesquisados ontem, o mCPP também pode causar, além do efeito estimulante, alucinações em alguns usuários. Ele não descarta também que, em homens, a nova droga possa causar o desenvolvimento de características femininas, como mamas, por estimular determinados hormônios envolvidos nesse processo. O local em que a droga foi encontrada em Goiás surpreendeu a polícia. "Tudo é inédito nesse caso", afirmou o delegado Ires João de Souza, da Regional de Combate ao Crime Organizado em Goiás. "O fato de ter sido encontrada em Goiás chama a atenção por não haver rotas desse tipo de droga no Estado nem portos ou aeroporto internacional", afirmou. As drogas sintéticas encontraram espaço nas luminosas e eletrônicas festas rave que se espalharam por Goiânia e também já chamam a atenção da Polícia Militar. "Nós estamos monitorando essas festas", disse o coronel Carlos Elias, porta-voz da PM de Goiás. "Na última delas, realizada no mês passado, montamos um grande sistema de controle nas ruas próximas, o que provocou o esvaziamento do evento." Segundo a Policia Civil, o perfil do usuário do ecstasy é de pessoas da classe média e média alta. A chegada delas a Goiás também teria causado um aumento de casos de morte por causa de dívidas que nasceram no fornecimento pessoal a prazo. "Aumentou o número de crimes contra a vida e contra o patrimônio", afirmou o delegado-titular da Delegacia de Homicídios, Jorge Moreira.

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