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PF prende 70 e desmonta 2 redes de tráfico com jovens de classe média

Grupos tinham mesmo fornecedor de cocaína, que era levada para a Europa e trocada por ecstasy, LSD e skunk

Por Marcelo Auler
Atualização:

Ao deflagrarem ontem no Rio e em mais sete Estados as Operações Trilha e Nocaute, a Polícia Federal (PF) e a Procuradoria da República desmontaram duas redes criminosas com cerca de 70 pessoas, que abasteciam a classe média fluminense com drogas sintéticas. Os grupos tinham uma ligação: o mesmo fornecedor da cocaína, que era levada para a Europa e trocada por comprimidos de ecstasy, LSD e skunk. Além da negociação com drogas sintéticas trazidas por mulas (pessoas comuns), os detidos apresentavam em comum o fato de serem jovens (em torno de 26 anos) e usarem com frequência a internet e os serviços de mensagens de texto da web e de celulares (SMS), que só recentemente passaram a ser grampeadas pela polícia. Na descrição dos procuradores José Simões Vagos e Orlando Monteiro da Cunha são "jovens de classe média alta, residentes em bairros nobres, principalmente no Rio, muitos praticantes de surfe e frequentadores de academias, que largaram os estudos e jamais tiveram ocupação lícita formal ou informal, se dedicando exclusiva e diuturnamente ao nefasto comércio de entorpecentes, em que auferem rendimentos que possibilitam a ostentação de um padrão de vida sedutor para a maioria dos colegas de sua idade". Segundo a Operação Trilha - cujo nome surgiu da prisão de dois brasileiros, em Paris, com drogas levadas em mochilas -, o grupo comandado pelos irmãos Rafael e Alessandro Fernandes Campos Lima arregimentava mulas brasileiras para levarem a cocaína e trazerem drogas sintéticas da Europa. A cocaína era fornecida por Magno Gil Piedade e trazida do Paraguai. Todo o esquema foi descoberto com a prisão de Ricardo Esteves Camarinha, com 1,5 quilo de cocaína, em março de 2008, no Aeroporto Charles De Gaulle (Paris). Por meio dele, a polícia francesa chegou a Rodrigo Cordeiro Santos da Silveira, vulgo Miguel. Interrogando os dois, chegou-se a Alessandro - e informou-se a PF. Iniciaram-se assim cerca de dez meses de monitoramento de telefones e internet no Brasil. Com esse trabalho, a PF prendeu nove mulas que partiam para a Europa com cocaína ou desembarcavam nos aeroportos de Rio, Recife, Foz do Iguaçu, Curitiba e São Paulo com carregamentos de drogas sintéticas. Duas mulas foram presas em Paris, após alerta dado aos policiais franceses. As apreensões, porém, não fizeram os criminosos imaginarem que estavam sendo seguidos. Para o delegado Victor César Santos, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio, falou mais alto o interesse pelo dinheiro. Eles gastavam R$ 20 mil com o envio da mula para a Europa e arrecadavam até R$ 250 mil com a revenda das drogas sintéticas. REPASSADOR A Polícia Federal chegou ao segundo grupo ao identificar um repassador de drogas sintéticas e segui-lo. Essa rede foi montada por Rodrigo Gomes Quintela, o Kaled, que comprava cocaína com o mesmo Magno, para exportá-la para a Europa e obter as drogas sintéticas. Paralelamente, Bruno Oliveira Loureiro, conhecido como Eicon, Alcaida ou Cotó, recebia lança-perfume argentino com a ajuda do taxista Jorge Edson Saiss, residente em Cascavel (PR). Ele também comprava haxixe do Paraguai, ajudado pelo paranaense Hermisson Avelino Batista e pelo mato-grossense Vitório Romão Rios Alegre. Essas três drogas eram revendidas no Rio e em outras cidades por uma rede com pelo menos 16 pequenos colaboradores. O maior desses distribuidores era Henrique Dornelles Forni, conhecido como Greg, Braddock ou Paulinho Gogó. DIÁLOGO Conversa entre o traficante Alessandro Fernandes Campos Lima e uma amiga, Sabrina, em 15 de abril do ano passado. Sabrina: Você não aprende? Alessandro: Pra mim manter a vida que eu gosto de ter eu preciso fazer isso. Sabrina: Não, você não precisa não, você quer conseguir a vida que você tem de uma forma fácil. É muito diferente, estuda, passa num concurso, vai pra Brasília. Alessandro: A minha vida não é nada fácil, começa por aí. (...) Eu envelheço dois anos a cada semana menina, você acha que é fácil? Sabrina: Eu liguei para ficar falando isso, você tem que tomar jeito na sua vida. Alessandro: Mas eu já tomei jeito, o jeito errado, ha ha ha...

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