PUBLICIDADE

PF prende governador, ex-governador e presidente de TCE do Amapá

Operação Mãos Limpas deteve ao todo 18 pessoas investigadas por corrupção, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, entre outros crimes; segundo investigações, governador Pedro Dias comandava grupo que superfaturava contratos e distribuía propinas

Por Rui Nogueira e Vannildo Mendes
Atualização:

Um governo inteiro atrás das grades e sob investigação por corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de bens, tráfico de influência, fraude em licitações públicas e formação de quadrilha. Esse foi o saldo final da Operação Mãos Limpas que a Policia Federal deflagrou no Amapá, na madrugada de ontem, quando prendeu o governador Pedro Paulo Dias (PP), que é candidato à reeleição, e o ex-governador Waldez Góes (PDT), que disputa vaga no Senado.Ambos têm apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. O ex-governador também é aliado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ao todo, a PF prendeu 18 pessoas com autorização do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, que preside o inquérito desde que as investigações, iniciadas em agosto de 2009, alcançaram a cúpula do Estado. O governo foi entregue ontem ao presidente do Tribunal de Justiça (TJ) do Amapá, o desembargador Dôglas Evangelista Ramos.          O terceiro na linha sucessória, o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás (PSDB), está impedido de assumir o Executivo porque concorre ao governo do Estado, mas também foi alvo de um mandado coercitivo - obrigado a acompanhar a PF, submetido a interrogatório e liberado em seguida.A Operação Mãos Limpas detectou que, sob o comando do próprio governador Pedro Dias, que era vice de Waldez antes deste se desincompatibilizar para concorrer ao Senado, a máquina do Estado era dominada por uma quadrilha de altos funcionários que fraudavam 9 em cada 10 licitações, superfaturando os contratos, cobrando e distribuindo propinas abertamente.

 

 

O acerto prévio na escolha de empresas era tão escancarado que uma única empresa de segurança e vigilância manteve "contrato emergencial" por três anos com a Secretaria de Educação do Estado. O valor da fatura mensal com a secretaria era de R$ 2,5 milhões. A PF mapeou pagamentos e tem provas de que o dinheiro era desviado para contas dos políticos e assessores do governo.

Todos os presos, por ordem do ministro Noronha, deveriam chegar na madrugada de hoje a Brasília. O governador Pedro Dias e o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), José Júlio de Miranda Coelho, vão ficar nas celas da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-governador do DF José Roberto Arruda ficou por dois meses.

Os outros 16 presos do Amapá vão para celas do presídio da Papuda. Depois de Arruda, o governador do Amapá foi o segundo a ser preso no exercício do cargo.

Veja também:

PUBLICIDADE

 

A ex-primeira dama Marília Brito Xavier Góes, que é delegada da Policia Civil, também foi presa. Na casa do presidente do TCE, Miranda Coelho, em João Pessoa (PB), a PF recolheu uma Ferrari, uma Maserati, duas Mercedes Benz e um Mini Cooper.PF prende PF. O caso mais espetacular e um dos mais documentados da operação foi a prisão do secretário de Segurança do Amapá, Aldo Alves Ferreira. Foi preso em Brasília, às 4h50 de ontem, após desembarcar na capital para cumprir uma agenda que misturava assuntos particulares e audiência oficiais. Foi uma abordagem constrangedora porque agentes da PF deram voz de prisão a um secretário que é também delegado da própria Policia Federal. Pior: antes da prisão, em Brasília, já havia apreendido no gabinete dele, em Macapá, duas malas com R$ 540 mil.A PF recolheu nas casas dos empresários, secretários, servidores públicos e assessores especiais do governo do Amapá mais de R$ 1 milhão em espécie - dinheiro recolhido em cofres particulares, gavetas e caixas -, que foi encontrado na execução dos mandados de busca e apreensão.Dois irmãos do atual governador também foram alvos de mandados coercitivos. A PF executou ontem, além das 18 prisões, 87 mandados de condução coercitiva e 94 mandados de busca e apreensão. Servidores da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) ajudaram na operação que alcançou também os Estados de São Paulo e Paraíba.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.