Pilotos do Legacy ficam no Brasil; investigação será ´longa´

Justiça nega liberação dos passaportes dos comandantes do jato que colidiu com o Boeing da Gol. Confira as dúvidas ainda não esclarecidas nas investigações

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Por Agencia Estado
Atualização:

O juiz Cândido Ribeiro, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, negou a devolução dos passaportes dos pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jean Paul Paladino - comandantes do jato Legacy que colidiu em 29 de setembro com o Boeing da Gol, causando a morte de 154 pessoas. Os documentos dos pilotos estão retidos pela Justiça brasileira o acidente, para manter os norte-americanos no Brasil até que as investigações provem que ambos não são culpados pela colisão. O advogado Théo Dias, defensor dos pilotos, afirmou que não vai recorrer da decisão. Ele acrescentou que o relatório preliminar da comissão que analisa o acidente indica que a investigação será "longa e complexa". Ele disse que os comandantes "encontraram pontos vagos" no texto, como por exemplo: "Por que o documento não traz o plano de vôo do Boeing da Gol?" Investigações As investigações indicam que houve uma sucessão de falhas que podem ter levado à maior tragédia da aviação brasileira. O relatório preliminar divulgado pela Aeronáutica, na quinta-feira, 16, aponta que houve tentativas de contato entre a torre de Brasília e o Legacy, sem sucesso. Ainda não se sabe o que impediu a comunicação. Outra dúvida é sobre a existência ou não de pontos cegos (áreas fora do alcance dos radares). Especialistas em sistemas de controle do espaço aéreo afirmam que pode haver tais "pontos cegos" móveis entre os centros de Brasília (Cindacta-1) e da Amazônia (Cindacta-4), onde ocorreu o acidente. O presidente da comissão de investigação do acidente, coronel Rufino Ferreira, admitiu a possibilidade de falhas dos equipamentos de comunicação em terra terem contribuído para a tragédia. No dia do acidente, porém, outros aviões sobrevoavam a região e não reportaram qualquer dificuldade de comunicação. O ministro da Defesa, Waldir Pires, também negou a existência de "buracos negros" na comunicação. Perguntas sem resposta Com o desenrolar das investigações, novas dúvidas surgem sobre o que realmente ocorreu em 29 de setembro. Veja abaixo mais questões que até agora não foram respondidas: 1) O transponder do Legacy foi desligado ou estava em pane? Por que o aparelho deixou de emitir sinais às 16h02 e voltou a funcionar às 16h59, três minutos após a colisão? 2) O equipamento de rádio do Legacy estava em pane? Por que os 19 chamados do Legacy para Brasília não foram ouvidos pelos controladores? Por que o jato não captou os sete chamados do Cindacta-1, apesar de o comando de Brasília ter conseguido se comunicar com outros aviões que voavam na região? 3) O inglês dos controladores de vôo de Brasília foi compreendido pelos pilotos do Legacy? Os operadores conseguiram entender os pilotos? 4) Por que o Legacy desaparece por 23 minutos até mesmo do radar primário, aquele que devia continuar a monitorá-lo, mesmo que a aeronave desligasse seu transponder? 5) Por que o controle de Brasília não advertiu o Legacy de que ele estava voando na contramão da aerovia UZ6? Ele levaria de dois a três minutos para descer de 37 mil pés para 36 mil pés. Mesmo descontado o tempo para executar a manobra, o avião ainda ficou na tela do radar do controle de Brasília com seus dados exatos de altimetria por quatro ou cinco minutos antes de o seu transponder parar de enviar aqueles dados. 6) Por que os pilotos americanos não seguiram o plano de vôo apresentado no aeroporto de São José dos Campos (SP)? Eles compreenderam mal a liberação para a decolagem recebida pela torre de São Paulo, feita com a seguinte frase: ´Clear, 370, Manaus´? Ou eles seguiram o disposto nas regras da aviação americana, que diz que, após perda de comunicação com o controle, o piloto deve manter o último nível de altitude em que foi autorizado a voar? 7) Os pilotos americanos do Legacy tinham conhecimento das normas de vôo da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla em inglês), que são as que valem em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos? Sabiam, por exemplo, que as normas da Icao dispõem que, após 20 minutos sem comunicação com o controle, o piloto deve voltar ao plano de vôo original e segui-lo à risca (o plano do Legacy determinava que, no momento da colisão ele deveria estar a 38 mil pés, e não a 37 mil pés)? 8) Por que, se não sabiam onde estava o Legacy - o avião havia sumido dos radares primário e secundário -, os controladores de vôo não desviaram o Boeing da Gol? colaboraram Paulo Baraldi, Bruno Tavares e Tânia Monteiro

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