Pingos nos is: contradições de Alckmin no Roda Viva e CBN

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Por Agencia Estado
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SÃO PAULO - O candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) deu entrevistas à Rádio CBN, na sexta-feira (20), e ao programa Roda Viva, da TV Cultura, no domingo (22) e falou sobre vários assuntos. Veja abaixo, algumas das contradições do candidato. 1. Desemprego jovem O que diz Alckmin... Que 4 jovens em cada grupo de 10 estão desempregados, que a economia do Brasil não pode crescer a taxas tão baixas. Dá como exemplo de combate ao desemprego jovem o programa do governo do Estado de São Paulo chamado ProJovem ...e a realidade O ProJovem do governo estadual não pode ser incluído entre as políticas de combate à alta taxa de desempregados jovens no Estado e no País. Ainda que também tenha um foco na ?capacitação profissional?, trata-se de uma política de aprofundamento da escolaridade dos jovens e de inclusão social 2. Taxa de crescimento O que diz Alckmin... Que o PIB (Produto Interno Bruto) do País não pode crescer à média de 2,5%, como cresceu nos dois mandatos do governo FHC (1995-2002) e no de Lula (2003-2006), que vai fazer com que a economia brasileira cresça a taxas iguais às dos países emergentes, entre 5% e 7%, em média ...e a realidade O problema é que o programa do candidato Alckmin (PSDB) não tem nenhuma medida apontando no que sua política econômica seria substancialmente diferente da que Lula pratica, que é cópia da que FHC adotou. E a pergunta que fica é esta: se essa política rendeu, em 12 anos, crescimento médio de 2,6% do PIB, por que, em um hipotético governo Alckmin ela renderia um crescimento entre 5% e 7%, como nos países emergentes? 3. Pesquisas e campanha O que diz Alckmin... Que a campanha está vivendo seus momentos decisivos, que ainda há cerca de 10 milhões de eleitores indecisos e que as pesquisas encomendadas pelo seu comitê eleitoral apontam ?uma pequena diferença? de intenção de voto entre ele e Lula. Até já disse que essa diferença ficaria em torno de 1% ...e a realidade As pesquisas mostram a existência de, no máximo, 6 milhões de eleitores indecisos. As pesquisas dos comitês de campanha dos candidatos não são registradas na Justiça Eleitoral e não têm como ser tecnicamente comparadas. Por isso é que o candidato fala em 1% de diferença, mas não mostra a pesquisa em público 4. Juros e BC O que diz Alckmin... Que vai baixar os juros, que vai manter as metas de inflação, que vai manter a ?autonomia operacional? do Banco Central, que vai combater a sobrevalorização cambial para ajudar a indústria que sofre com o real valorizado. Se eleito, ?vou pagar juros, mas não nas alturas?, diz o candidato ...e a realidade Apesar de o candidato dizer que fará ?uma política diferente?, essas declarações provam que, na essência, manterá os pilares da administração da atual equipe, a começar pelas metas da inflação e a independência do BC para fixar as taxas de juros. Logo, o candidato não praticará uma política intervencionista no BC para acelerar a queda dos juros. Isso prova que a política de Alckmin também seria ?gradualista? 5. PCC e segurança pública O que diz Alckmin... Que o Estado de São Paulo investiu como nenhum outro em segurança pública e, igualmente, nenhum outro reduziu tantos os índices de violência. Que os ataques do PCC e demais organizações criminosas têm ?natureza política eleitoral? ...e a realidade É verdade que São Paulo investiu e reduziu os índices, mas é igualmente verdade que o governo tucano paulista não levou em consideração os problemas carcerários, o que ficou evidente com os bate-bocas entre as secretarias de Segurança Pública e Administração Penitenciária depois dos ataques do PCC, em maio passado. O ex-presidente FHC, em carta aberta divulgada no dia Sete de Setembro, afirmou: ?Em São Paulo (...), as taxas de homicídio e latrocínio caíram fortemente graças à ação da polícia. Nunca se prendeu tanto, a um ponto tal que a cada mês há mais 800 presos, descontando-se os que são liberados (...) Resultado: o sistema prisional está abarrotado e, há que reconhecer, (Alckmin) não foi capaz de dar tratamento adequado à massa de presos, criando um caldo de cultura para a criminalidade e deixando ao PCC espaço para demagogia em nome da melhoria de condições de vida dos prisioneiros.? 6. Tráfico de drogas e armas O que diz Alckmin... Que boa parte da força de organizações como o PCC (Primeiro Comando da Capital) se origina na ausência de uma política federal de vigilância efetiva das fronteiras e de combate ao tráfico de drogas e de armas. Para provar essa vulnerabilidade, diz que a maioria das armas vem de fora do país, que entrariam à razão de ?uma a cada 20 minutos? ...e a realidade Existe a necessidade de uma política federal mais efetiva, mas nem com todo o investimento possível as fronteiras ficariam completamente fechadas ao tráfico de drogas e contrabando de armas. Essa relação causa-efeito é um truque político. Até porque a maioria das armas leves que aparelham o exército do tráfico é fabricada no Brasil 7. Corte de gastos O que diz Alckmin... Que, se for eleito, vai cortar nas despesas do custeio da máquina pública e investir na eficiência da gestão administrativa do Estado. Cita como desperdícios do governo Lula os gastos de R$ 700 milhões com passagens e diárias e diz que o combate à corrupção por meio das compras eletrônicas podem render uma economia ?entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões?. Esses cortes ajudariam a compor o cenário de corte acelerado de juros ...e a realidade O valor gasto com passagens e diárias é idêntico ao do governo FHC. O corte de gastos citado pelo candidato tem a ver, na essência, com a melhoria da gestão pública, gastar bem os recursos existentes. É não mais que residual a influência da qualidade do custeio na política fiscal que induza ao corte acelerado de juros. Até porque, eficiência de gasto não significa que o valor nominal do custeio seja reduzido. José Serra, como ministro da Saúde, no segundo mandato de FHC, gastou mais e melhor 8. Déficit da Previdência O que diz Alckmin... Que ?a reforma da Previdência já foi feita?. Que a grande reforma para equilibrar o caixa do regime geral (INSS) e do regime próprio dos servidores públicos será feita com o crescimento econômico e o combate à informalidade no mercado de trabalho. Que é contra a implantação da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria ...e a realidade As declarações do candidato têm a clara intenção de não reforçar no eleitor a idéia de que ?fazer reforma previdenciária é cortar direitos?. Independentemente do crescimento, a Previdência brasileira tem problemas que exigem uma correção na curva do déficit crescente, que está beirando os R$ 100 bilhões. Se a grande reforma é também o combate à informalidade, então o candidato deve concordar, ao menos, com o projeto que cria o ?Simples Trabalhista? e que está em tramitação no Congresso. Nesse caso, Alckmin deve concordar em reduzir, por exemplo, a contribuição patronal para o FGTS para os trabalhadores 9. Previdência dos servidores O que diz Alckmin... Que não vai mexer em direitos adquiridos, que o grande problema da Previdência está concentrado no regime próprio dos servidores, onde cerca de 3 milhões de aposentados custam ao Tesouro R$ 80 bilhões em aposentadorias. Já os 25 milhões de aposentados do INSS, que se aposentam com 2 salários mínimos em média, custam R$ 40 bilhões ...e a realidade Não é correto comparar os dois regimes pelo gasto bruto. A previdência dos servidores carrega um rombo criado pela Constituição de 1988 ao dar aposentadoria integral até para quem nunca havia contribuído. Mas ela serve também para remunerar a independência dos servidores de carreira do Estado. Para cortar os valores dessas aposentadorias, o candidato tem de dizer publicamente que os juízes, por exemplo, não mais se aposentarão com os rendimentos atuais, o salário integral que recebem na ativa 10. Reajuste de aposentadorias O que diz Alckmin... Que, se for eleito, fará todo o esforço administrativo possível para reajustar as aposentadorias do INSS em 16%, como propõe a oposição (PSDB e PFL) no Congresso, em vez dos 5% concedidos pelo governo Lula por meio de uma Medida provisória. ?Posso até pagar parcelado, mas darei o máximo que puder?, diz o candidato ...e a realidade É uma posição claramente populista, uma vez que o candidato não admite desvincular os reajustes do salário mínimo e dos benefícios da Previdência. A decisão, jamais adotada nos governos tucanos, apenas aprofunda o rombo nas conta das Previdência. Alckmin foi taxativo, na entrevista à CBN: ?Não vou acabar com a vinculação do benefício com o mínimo? 11. Febem O que diz Alckmin... Que conseguiu controlar as crônicas rebeliões na Febem com a política de fechar e derrubar os grandes ?cadeiões de menores? e a construção de 69 unidades menores e descentralizadas e espalhadas por todo o Estado. Que o problema do menor infrator também diz respeito à família e ao governo federal (?que não libera as verbas prometidas?) ...e a realidade À semelhança dos problemas de segurança pública, a política federal é a parte menor da questão. O problema é que o governo tucano estadual foi tratando as rebeliões como um caso de polícia, demorou para enfrentar o corporativismo dos agentes da Febem e só no final do mandato é que implantou a tal descentralização 12. Privatizações O que diz Alckmin... Que algumas das privatizações, levadas a cabo no governo FHC, foram bem feitas. Cita, como exemplo, as privatizações da telefonia, da Embraer e do setor siderúrgico e mineral, como a Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ...e a realidade É um truísmo constatar que os resultados de uma política pública têm coisas boas e coisas ruins. Trata-se de uma defesa envergonhada das privatizações, o que reforça a idéia de que nem os tucanos têm certeza sobre uma política criticada pelo candidato Lula 13. Bingos O que diz Alckmin... Que é a favor de regulamentar os bingos, que as casas de jogos não podem viver na atual ?zona cinzenta? em que foram deixados pelo governo Lula ...e a realidade A posição do candidato tucano ao Planalto contrasta com a postura de franca oposição da bancada federal do PSDB à regulamentação dos bingos proposta pelo governo Lula, em 2004 14. CPMF O que diz Alckmin... Que a contribuição CPMF é um ?imposto ruim? por ser cobrada em cascata. Que o ideal seria ter uma alíquota menor, apenas ?fiscalizatória?, em vez dos atuais 0,38%. Mas que, se for eleito, não pode prescindir a curto prazo da receita de R$ 30 bilhões proporcionada pela CPMF ...e a realidade O candidato não diz de quanto deveria ser uma ?alíquota fiscalizatória?. Alguns tributaristas afirmam que a alíquota com essa função não deveria ser maior que 0,01%. Mais uma posição dúbia, que passa a idéia que não faria nada diferente do que Lula faz, isto é, não tem como abrir mão da receita da CPMF

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