Planalto: Lula está ''indignado'' e ''constrangido''

Parlamentares defendem convocação do ministro Jobim para dar explicações ao Congresso

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Por Tania Monteiro , Eugênia Lopes e BRASÍLIA
Atualização:

O Palácio do Planalto divulgou ontem uma série de frases e termos atribuídos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para demonstrar uma "grande indignação" e repudiar o assassinato dos três jovens no Morro da Providência, depois de terem sido entregues a uma quadrilha rival por um tenente e soldados do Exército. O episódio deixou o presidente "consternado" e "constrangido", segundo relatos de ministros e assessores. Lula não se aproximou dos holofotes e evitou comentários sobre o assunto na única vez em que apareceu em público ontem, na solenidade de posse de três ministros do Superior Tribunal de Justiça. A avaliação mais contundente atribuída a Lula foi relatada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. "Isso comprova, na visão do presidente e que é majoritária em toda a sociedade, que as Forças Armadas não estão aptas a tratar da segurança pública", afirmou Tarso. Mais tarde, outro ministro contou que o presidente avalia que a instituição Exército não tem participação no crime, que teria ocorrido por "ingerências de pessoas". "Um crime foi cometido, mas não foi a instituição", teria dito o presidente. "Todo mundo está constrangido", relatou o ministro. CONGRESSO NACIONAL Parlamentares defenderam ontem a convocação do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, para explicar no Congresso a morte dos jovens. Para a oposição, o presidente Lula usou o Exército eleitoralmente ao dar aval para que a Força acompanhasse o projeto Cimento Social, idealizado pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), candidato à prefeitura da cidade. "O Exército não pode atuar como uma milícia, envolvida em uma empreitada particular. Se houve uso eleitoral é lamentável", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgilio Neto (AM). "Usaram o exército em campanha eleitoral. O que está acontecendo no Rio é um desrespeito aos militares. O presidente Lula está usando indevidamente o Exército", disse o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). Virgilio apresentou ontem requerimento de informações ao ministro Jobim com pedido para que sejam dadas explicações sobre as condições em que o Exército operava no Morro da Providência. O tucano encontrou-se rapidamente com o senador Crivella, que reconheceu ser o "pai" do projeto Cimento Social. "Ele disse que o desastre todo se deu por causa de um louco, um tenente desvairado que fez besteira", contou Virgilio. Crivella divulgou ontem nota oficial em que defende a manutenção de tropas no morro. Ele lamenta as mortes e diz que "este episódio é um fato isolado e não pode prejudicar um projeto importante para o Rio, que está beneficiando 780 famílias de uma comunidade carente e centenária". Também em nota, o Exército rechaça as acusações de uso político-eleitoral da "ação subsidiária", de apoio ao trabalho de "revitalização de moradias populares". Além do ministro Jobim, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), quer que o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, também dê explicações sobre o episódio.

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